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Interseção Com Nibiru
Danilo Clementoni






Danilo Clementoni

Interseção com

Nibiru

As aventuras de Azakis e Petri

TГ­tulo original: Incrocio con Nibiru

Tradução de: Christina Yaghi



Editora: Tektime


Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, locais e organizações mencionadas são o resultado da imaginação do autor e com a intenção de dar autenticidade à narrativa. Qualquer semelhança com eventos ou pessoas reais, vivas ou falecidas é meramente coincidência.

INTERSEÇÃO COM NIBIRU

Direitos autorais В© 2015 Danilo Clementoni



Primeira edição: Fevereiro de 2015

Publicação e impressão independente



facebook: www.facebook.com/incrocioconnibiru

blog: dclementoni.blogspot.it

e-mail: d.clementoni@gmail.com



Todos os direitos reservados. Nenhum tipo de reprodução de nenhuma parte desta obra poderá ser realizada, incluindo por meio de qualquer sistema mecânico ou eletrônico, sem a permissão expressa do editor, exceto para trechos breves para

fins de resenha.


Este Г© o segundo volume da sГ©rie



"As aventuras de Azakis e Petri”. Para vivenciar plenamente esta aventura empolgante, antes de começar a ler este livro, sugiro a leitura do primeiro volume intitulado "De volta à Terra” (Nota do autor)


A minha esposa e filho, pela paciência e sugestões inestimáveis, que auxiliaram o meu avanço e o meu romance.

Agradecimentos especiais a todos os meus amigos, pelo encorajamento e apoio contínuos, e pelo estímulo para a conclusão desta obra. Sem eles, não seria possível sua concepção.




Introdução


O vigésimo planeta, Nibiru (o planeta de passagem), como foi denominado pelos sumérios, ou Marduk (rei dos céus), assim referido pelos babilônios, na verdade é um corpo celestial orbitando nosso Sol em um período de 3.600 anos. Sua órbita é substancialmente elíptica e retrógrada (gira em torno do Sol em direção oposta aos outros planetas) e nitidamente inclinada em relação ao eixo do nosso sistema solar.

Em cada aproximação cíclica, com frequência, ocorreram imensas turbulências interplanetárias no nosso sistema solar, assim como nas órbitas e na estrutura dos planetas em que consiste. Foi durante uma de suas transições mais conturbadas que o majestoso planeta Tiamat, localizado entre Marte e Júpiter, cuja massa é de aproximadamente nove vezes a da atual Terra, rico em água e com onze satélites, fora destruído numa colisão cataclísmica. Uma das sete luas que orbitam Nibiru atingiu o gigantesco Tiamat, cabalmente separando-o em dois e lançando as duas seções em órbitas opostas. Na transição seguinte (o “segundo dia” da Gênesis), os satélites remanescentes de Nibiru deram fim a este processo, destruindo completamente uma das duas seções formadas na primeira colisão. Os detritos gerados pelos múltiplos impactos criaram o que hoje conhecemos como "Cinturão de Asteroides" ou "Anel de Fragmentos", como veio a ser chamado pelos sumérios. Este foi parcialmente engolido pelos planetas vizinhos. E Júpiter, em particular, captou o grosso dos detritos, desse modo aumentando visivelmente sua própria massa.

Os objetos do satélite nesse desastre, incluindo os sobreviventes de Tiamat, foram quase todos projetados para as órbitas exteriores, formando o que atualmente conhecemos por “cometas”. A porção que sobreviveu à segunda transição então se posicionou numa órbita estável entre Marte e Vênus, levando consigo o último satélite restante e assim formando o que no presente chamamos de Terra, com sua inseparável companheira, a Lua.

As marcas causadas por esse impacto cósmico, que ocorreu há cerca de 4 bilhões de anos, ainda são relativamente visíveis hoje. A porção marcada do planeta está agora completamente coberta pelas águas, no que hoje denominamos de Oceano Pacífico. Ela ocupa cerca de um terço da superfície de terra, se estendendo por mais de 179 milhões de quilômetros quadrados. Ao longo dessa vasta área, praticamente não existem áreas de superfície, mas apenas uma grande depressão, com profundidades superiores a dez quilômetros.



Atualmente, a configuração de Nibiru é muito semelhante à da Terra. Dois terços dele estão cobertos de água, enquanto o restante é ocupado por um único continente, que se estende de norte a sul, com uma superfície total de mais de 100 milhões de quilômetros quadrados. Por centenas de milhares de anos, alguns de seus habitantes, aproveitando a aproximação cíclica do planeta ao nosso, nos fazem visitas sistemáticas, toda vez influenciando a cultura, o conhecimento, a tecnologia e até a própria evolução da raça humana. Nossos ancestrais se referiam a eles de muitas formas, mas talvez a que melhor os represente seja "deuses”.




CenГЎrio


Azakis e Petri, os dois adoráveis e inseparáveis alienígenas que protagonizam esta aventura, retornaram ao planeta Terra depois de um dos seus anos (equivalente a 3.600 anos terrestres). Sua missão? Recuperar uma carga preciosa que precisaram abandonar às pressas numa visita anterior, devido a uma falha no seu sistema de acoplagem. Porém desta vez, encontraram uma população terráquea muito distinta à que deixaram antes. Hábitos, tradições, cultura, tecnologia, sistemas de comunicação, armas. Tudo estava transformado.

Na chegada, depararam-se com um par de terrГЎqueos: a Doutora Elisa Hunter e o Coronel Jack Hudson, que se dispuseram a acolhГЄ-los, e depois de inГєmeras aventuras, lhes auxiliaram a concluir a sua delicada missГЈo.

Mas os dois alienígenas prefeririam não ter contado a seus novos amigos que seu próprio planeta, Nibiru, estava se aproximando rapidamente e em apenas sete dias terrestres, viria a interceptar a órbita terrestre. De acordo com os cálculos dos seus Anciãos, um dos sete satélites chegaria perto suficiente para quase tocar o planeta, provocando uma série de mudanças climáticas, comparáveis àquelas de uma passagem prévia, que se resumira a uma definição: O Grande Dilúvio.



Na primeira parte do romance De volta à Terra – As aventuras de Azakis e Petri, os quatro estavam dentro da sua nave imponente, a Theos, e é a partir desse ponto que retomaremos a narrativa desta nova e fantástica aventura.




Astronave Theos


Nas últimas horas, o cérebro de Elisa fora atulhado por tantas informações, que se sentia como uma garotinha que comera doces demais. Dois estranhos mas adoráveis personagens, que de repente apareceram do nada, subverteram muitas "certezas históricas" que ela e o resto da humanidade quase sempre deram como incontestáveis. Eventos, descobertas científicas, crenças, cultos, religião e a própria evolução humana estavam prestes a serem completamente revolucionados. Notícias da descoberta de que seres de outro planeta manipularam habilmente e guiaram o desenvolvimento da humanidade, desde seus primórdios, teria um impacto na sociedade como o da afirmação de que a Terra era redonda e não plana.



Azakis, junto a Petri, seu amigo fiel e companheiro de viagem, estava imóvel no centro da ponte de comando, seguindo com os olhos Elisa, que estava andando nervosamente de um lado para outro, com as mãos nos bolsos das calças largas, murmurando palavras indecifráveis.

Jack, ao contrário, estava caído numa poltrona, tentando apoiar com as mãos a cabeça, que de repente pareceu incrivelmente pesada. Mas foi Jack que, depois de minutos intermináveis de silêncio, decidiu tomar as rédeas da situação. Subitamente ficou de pé e encarando os dois alienígenas, disse em voz firme: — Se nos escolheram para essa tarefa, devem ter uma razão. Tudo o que vou dizer é que não ficarão decepcionados — Então olhou diretamente nos olhos de Azakis e perguntou, determinado: — Poderiam nos mostrar uma simulação, com essa sua pequena mágica, — e apontou para a imagem virtual da Terra, que ainda estava girando lentamente no centro da sala — da aproximação do seu planeta?

— Com prazer — logo respondeu Azakis. Ele coletou todos os cálculos dos Anciãos pelo seu implante N^COM e elaborou uma representação gráfica diante deles.

— Esse é Nibiru — disse ele, indicando o maior planeta. — E esses são seus satélites, dos quais estávamos falando.

Sete corpos celestes, consideravelmente menores, estavam girando em torno do majestoso planeta a distâncias e velocidades muito diversas entre si. Azakis colocou o dedo indicador no que estava orbitando mais longe de todos e ampliou-o até ficar quase do seu tamanho. Então, muito solenemente, disse: — Senhoras e Senhores, permitam-me a apresentar Kodon; esta imponente massa rochosa decidiu criar muitos problemas para o seu querido planeta.

— Mas qual é o seu tamanho? — perguntou Elisa, intrigada, enquanto observava o globo cinzento irregular.

— Digamos que é um pouco menor do que a sua Lua, mas a massa é quase o dobro — Azakis fez um gesto ligeiro com a mão e o sistema solar inteiro apareceu diante deles, com os planetas se movendo lentamente em suas respectivas órbitas. As trajetórias de cada um eram representadas por finas linhas coloridas e diversas.

— Esta, — continuou Azakis, apontando para uma linha vermelha escura — é a trajetória que Nibiru seguirá ao se aproximar do Sol — Então ele acelerou o movimento do planeta, até estar perto da Terra, e acrescentou: — e este é o ponto em que as órbitas dos dois planetas se cruzarão.

Atônitos, mas prestando muito atenção, os dois terráqueos observavam a explicação que Azakis estava dando sobre o evento que, em apenas alguns dias, complicaria suas vidas e as de todos os habitantes do planeta.

— Em que distância Nibiru chegará até nós? — perguntou em voz baixa o Coronel.

— Como disse, — respondeu Azakis, — Nibiru não será um incômodo excessivo para vocês. É Kodon que quase vai encostar na Terra e provocar muitos problemas — Ele trouxe a imagem um pouco mais perto e mostrou a simulação do satélite, no momento em que estaria no ponto mais próximo da órbita terrestre. — Este será o momento de força gravitacional máxima entre os dois corpos celestes. Kodon estará a apenas 200.000 quilômetros do seu planeta.

— Raios! — exclamou Elisa. — Isso não é nada.

— Na última vez, — retrucou Azakis — exatamente dois ciclos atrás, estava a cerca de 500.000 quilômetros de distância e todos nós sabemos o que conseguiu causar então.

— Sim, o famoso Grande Dilúvio.

Jack estava de pé com as mãos entrelaçadas por trás das costas, balançando lentamente para frente e para trás, se erguendo levemente, primeiro nos dedos do pé e depois nos calcanhares. De repente, num tom muito sério, quebrou o silêncio: — Com certeza não sou um dos maiores especialistas no assunto, mas receio que nenhuma tecnologia terrestre seria capaz de neutralizar um evento como esse.

— Talvez pudéssemos lançar mísseis com ogivas nucleares — supôs Elisa.

— Isso só acontece em filmes de ficção científica — respondeu Jack, sorrindo. — E de qualquer modo, supondo que pudéssemos fazer a aterrissagem de vetores desse tipo em Kodon, arriscaríamos destroçar o satélite em milhares de pedaços, provocando uma chuva mortal de meteoros. Isso seria realmente o fim de tudo.

— Com licença — disse Elisa para os dois alienígenas. — Não disseram antes que, em troca do nosso precioso plástico, nos ajudariam a resolver esta situação absurda? Espero que realmente tenham algumas ideias boas para ajudar-nos aqui, porque senão, estamos conversados.

Petri, que estivera quieto, de braços cruzados, sorriu ligeiramente e deu um passo em direção à cena tridimensional representada no meio da ponte. Com um rápido momento da mão direita, desenhou um tipo de rosquinha prateada. Ele apontou para a mesma com o indicador e moveu-a, até estar exatamente entre a Terra e Kodon, e então disse: — Esta deve ser a solução.




Tell el-Mukayyar – A fuga


Na tenda do laboratório, os dois falsos beduínos que tentaram roubar o "precioso conteúdo" da nave auxiliar dos dois alienígenas, estavam amordaçados e firmemente amarrados a um grande barril de combustível. Estavam sentados no chão, encostados no contêiner pesado de metal, em direções opostas. Um dos assistentes da doutora ficara de guarda no lado de fora da tenda e de vez em quando, olhava para dentro para vigiá-los.

O mais magro, que visivelmente tinha algumas costelas partidas por causa do murro do Coronel, e apesar da dor que o impedia de respirar, nГЈo parou, nem um segundo, de olhar em volta, procurando algo para libertГЎ-lo.

A luz do sol da tarde penetrava a tenda timidamente por um pequeno buraco na parede, lançando um feixe fino de luz no ar quente e poeirento. Aquele raio de luz feito uma espada esboçava uma pequena elipse branca no chão, que estava se movendo lentamente em direção aos dois prisioneiros. O sujeito magro estava observando o progresso lento do pedaço iluminado, quase hipnotizado, quando um clarão de luz repentino o trouxe de volta à realidade. A cerca de um metro, algo metálico, soterrado pela metade na areia, refletia a luz do sol diretamente no seu olho direito. Ele mexeu um pouco a cabeça e tentou descobrir o que era, em vão. Então, tentou esticar uma perna naquela direção, mas uma terrível pontada em suas costas fez com que lembrasse do estado das costelas, e resolveu desistir. Pensou que provavelmente não alcançaria o objeto, e tentando falar através da mordaça, sussurrou: — Ei, ainda está vivo?

O comparsa gordo não estava em situação melhor. Depois de Petri lançá-lo pelo ar, um grande hematoma apareceu no seu joelho direito; tinha um belo galo na testa, o ombro direito estava lhe torturando e o pulso direito estava inchado como um balão.

— Acho que sim — ele respondeu em voz baixa, murmurando através da mordaça.

— Ainda bem! Chamei-o por um bom tempo. Estava ficando preocupado.

— Devo ter desmaiado. Minha cabeça está estourando.

— Definitivamente precisamos sair daqui — disse o sujeito magro com determinação.

— Mas como você está? Algo quebrado?

— Devo ter algumas costelas partidas, mas me viro.

— Como deixamos nos pegarem assim de surpresa?

— Não importa agora. Aconteceu o que aconteceu. Vamos tentar ficar livres. Olhe para a sua esquerda, onde o raio da luz do dia aparece.

— Não consigo ver nada — respondeu o gordo.

— Há alguma coisa enterrada pela metade lá. Parece um objeto de metal. Veja se consegue alcançar com a sua perna.

O ruído repentino do zíper da tenda se abrindo interrompeu a operação. O guarda apareceu e olhou para dentro. O gordo voltou a fingir que estava inconsciente enquanto o outro permaneceu completamente imóvel. O homem deu uma olhada neles, então rapidamente verificou todo o equipamento espalhado em volta, e com um ar satisfeito, se retirou e fechou a entrada novamente.

Os dois ficaram parados um instante, então o gordo falou primeiro: — Essa foi perto.

— Então, pode ver o objeto? Pode alcançá-lo?

— Sim, agora eu posso. Espere, vou tentar.

O falso beduíno obeso começou a balançar para frente e para trás, tentando soltar um pouco as cordas que o seguravam, e então começou a esticar a perna esquerda o máximo que podia na direção do objeto. Ele conseguiu alcançá-lo. Começou a cavar com o calcanhar até conseguir expor uma parte.

— Parece uma espátula. Deve ser uma Marshalltown Trowel. Essa é a ferramenta preferida dos arqueólogos para raspar o chão, na procura de louça antiga.

— Consegue apanhá-la?

— Não.

— Se você parasse de se empanturrar com porcarias, seria um pouco mais ágil, seu gordo feio.

— O que meu físico vigoroso tem com isso?

— Vamos lá então, "físico vigoroso", vê se consegue pegar aquela espátula, ou farão com que emagreça na cadeia.

Imagens de cafetões repugnantes e fedorentos de repente surgiram diante dos olhos do homem gordo. Essa visão terrível provocou uma força que pensava que não tinha mais. Ele curvou a coluna o mais longe que podia. Uma pontada de dor disparou diretamente do ombro dolorido para a cabeça, mas ele ignorou. Com uma investida firme, conseguiu levar o calcanhar para trás da espátula, e rapidamente dobrando a perna, puxou-a para si.

— Feito — gritou através da mordaça.

— Será que pode calar a boca, seu idiota? Pra quê está gritando? Quer que esses dois capangas voltem aqui e esmurrem a gente de novo?

— Desculpe — o gordo replicou suavemente. — Mas consegui pegar de verdade.

— Viu? Com empenho, até você é capaz de ser útil. Deve estar afiada. Veja se consegue cortar essas malditas cordas.

Com a mão que estava sadia, o gordo agarrou o cabo da espátula e começou a esfregar a ponta mais afiada nas cordas por trás das costas.

— Supondo que a gente possa ficar livre, — o gordo murmurou, — como vamos fugir daqui? Esta área está cheia de gente e ainda está amanhecendo. Espero que tenha um plano.

— Claro que tenho! Não sou eu a mente engenhosa por aqui? — exclamou o magro, orgulhoso. — Enquanto você estava tirando uma sonequinha confortável, analisei a situação e achei um meio de dar o fora.

— Sou todo ouvidos — respondeu o outro, continuando a subir e a descer a espátula.

— Esse cara da vigia olha aqui pra dentro a cada dez minutos e nossa tenda está no lado leste da área.

— E daí?

— Como diabos pude trazer você como parceiro pra este trabalho? Você tem a imaginação e a inteligência de uma ameba; esperando que a ameba não fique ofendida com a comparação.

— Na verdade — retorquiu o gordo ligeiramente ressentido — fui eu que te escolheu, uma vez que o trabalho foi dado a mim.

— Conseguiu se libertar? — interrompeu o magro; a discussão estava começando a piorar e seu cúmplice estava absolutamente certo.

— Preciso de alguns minutos. Acho que vai ceder.

Logo depois, a corda usada para amarrar os dois ao barril se rompeu e a barriga do gordo, finalmente livre de restrições, retornou ao tamanho normal.

— Conseguimos! — exclamou o gordo, satisfeito.

— Excelente. Agora vamos continuar até o guarda voltar. Precisamos fazer com que tudo esteja do mesmo jeito que antes.

— Ok, parceiro. Vou fingir de novo que estou adormecido.

Os dois nГЈo precisaram esperar muito. Alguns minutos depois, o assistente da doutora estava de volta, para espiar dentro da tenda. Ele deu a olhada habitual em volta, checando o ambiente, e sem notar nada fora do comum, fechou o zГ­per e entГЈo se posicionou novamente na sombra da varanda, calmamente acendendo um cigarro enrolado Г  mГЈo.

— Agora — disse o sujeito magro. — Vamos embora.

Com todas as dores e desconfortos, era mais complicado do que se imaginava, mas depois de soltarem gemidos monГіtonos de dor e vГЎrios palavrГµes, acabaram frente a frente.

— Passe a espátula pra mim — ordenou o magro, removendo sua mordaça. As dores no lado direito impediam que se mexesse com facilidade, mas ao colocar sua mão aberta no seu lado, conseguiu aliviar um pouco a dor. Ele alcançou o lado oposto à entrada da tenda com alguns passos, ajoelhou-se e lentamente empurrou a espátula Marshall para dentro. A lâmina afiada da espátula atravessou o pano macio do lado voltado para o leste como manteiga, criando uma pequena fenda de quase dez centímetros. O sujeito magro aproximou o olho direito e espiou pela fenda por alguns instantes. Como esperado, não havia ninguém ali. Somente as ruínas da antiga cidade, a cerca de cem metros, onde, de antemão, haviam escondido o jipe que seria usado para a fuga, com toda a pilhagem.

— Caminho livre — disse ele, usando a lâmina da espátula para abrir o pequeno corte até o chão. — Vamos! — e rastejou pela fenda.

— Podia ter feito um buraco maior? — resmungou o gordo, entre um gemido e outro, enquanto tentava, com dificuldade, deslizar para fora.

— Venha logo! Precisamos fugir depressa.

— Fácil falar. Mal consigo andar.

— Deixa disso, se apresse e pare de reclamar. Lembre-se, se não conseguirmos fugir, ninguém impedirá que passemos uns bons anos na cadeia.

A palavra "cadeia" sempre instigava força extra no sujeito gordo. Ele não falou mais nada, e sofrendo em silêncio, seguiu o companheiro, que se arrastava furtivamente em direção às ruínas.



Foi o estrondo de um motor à distância que despertou suspeitas do homem da vigia. Olhou para o cigarro agora apagado, então atirou-o para longe com um gesto rápido. Determinado, ele passou para dentro da tenda, mas mal podia acreditar no que via: os dois prisioneiros fugiram. A corda fora deixada de qualquer jeito perto do barril de combustível, um pouco mais adiante estavam os dois pedaços de pano que usaram como mordaças e na parede no fim da tenda, um rasgão que ia até o chão.

— Hisham, pessoal — berrou o homem com todo o fôlego que tinha nos pulmões. — Os prisioneiros fugiram!




Astronave Theos – O superfluido


A imagem do objeto que Petri havia colocado no espaço entre Kodon e a Terra deixou ambos os terráqueos boquiabertos.

— E o que é essa coisa? — perguntou Elisa com curiosidade, enquanto ia mais perto para enxergar melhor.

— Ainda não demos um nome oficial — Petri trouxe o estranho objeto de volta ao primeiro plano de novo, e observando a doutora, acrescentou: — Talvez você possa escolher um.

— Se ao menos você explicasse o que é, talvez eu pudesse tentar.

— Nossos melhores cientistas se dedicaram a este projeto há um certo tempo — Petri entrelaçou as mãos por trás das costas e começou a andar lentamente pela sala. — Esse equipamento é o resultado de uma série de estudos que, em parte, vão mesmo além das minhas habilidades científicas.

— E posso lhes garantir que são notáveis — disse Azakis, dando um tapinha afetuoso nas costas do colega.

— Em poucas palavras, é uma espécie de sistema antigravitacional. Tem base em um princípio que, como disse, ainda está sendo estudado, mas que posso tentar resumir em algumas palavras.

— Acho que isso seria bem melhor — comentou Elisa. — Não se esqueçam de que pertencemos a uma espécie que, se comparada à sua, pode ser definida facilmente como subdesenvolvida.

Petri assentiu ligeiramente. Então se aproximou da representação tridimensional do estranho objeto e calmamente continuou a explicação. — Isto – que vocês chamaram de "rosquinha" anteriormente – é geometricamente definido como toroide. O anel tubular é oco, enquanto o que poderíamos simplesmente chamar de "buraco central" contém o sistema de propulsão e de controle.

— Até aqui, está tudo claro — disse Elisa, cada vez mais empolgada.

— Muito bem. Agora vamos examinar o princípio de operação do sistema — Petri girou a imagem do toroide e mostrou a seção interna. — O anel é preenchido por um gás, geralmente um isótopo de hélio, que, refrigerado a uma temperatura perto de zero absoluto, muda de estado e se transforma num líquido com características bem particulares. Na prática, sua viscosidade se torna quase nula e pode fluir sem gerar nenhuma fricção. Chamamos essa característica de "superfluidez".

— Agora estou ficando um pouco perdida — disse Elisa, lamentando.

— Simplificando, esse gás, em estado líquido, adequadamente estimulado pela estrutura do anel, será capaz de viajar dentro dele, sem nenhuma dificuldade, a uma velocidade próxima à da luz, e conseguirá mantê-la por um período teoricamente infinito.

— Fantástico — foi tudo o que Jack comentou, e não havia perdido nem uma sílaba de toda a explicação.

— Ok, agora acho que entendi — acrescentou Elisa. — Mas como essa engenhoca vai combater os efeitos da força gravitacional entre os dois planetas?

— É aí que as coisas começam a ficar mais complicadas — respondeu Petri. — Digamos que a rotação do superfluido a velocidades próximas à da luz, gerem uma curvatura de continuidade espaço-tempo em volta, provocando um efeito antigravitacional.

— Meu Deus! — exclamou Elisa. — Meu velho professor de física estaria se revirando no túmulo.

— E não somente ele, minha querida — acrescentou o Coronel. — Se entendi direito o que esses dois senhores estão tentando nos explicar, cá estamos conversando sobre a subversão de muitas teorias e conceitos que vários dos nossos cientistas passaram a vida inteira tentando analisar e estudar. O princípio de antigravidade foi teorizado mais de uma vez, antes que qualquer um fosse capaz de prová-lo completamente. Agora finalmente temos a prova aqui, diante de nós — e ele apontou para o estranho objeto — de que isso é realmente possível.

— Eu teria um pouco mais de cuidado — disse Azakis, atenuando um pouco o entusiasmo do Coronel. — Sinto-me obrigado a informar-lhes que essa coisa nunca foi testada em grandes objetos como planetas, ou melhor, tentamos há dois ciclos mas não terminou exatamente como esperávamos. Além disso, eventos que não antecipamos podem ocorrer, e…

— Lá vem você, trazendo má sorte como sempre — disse Petri, interrompendo seu colega. — O mecanismo já foi demonstrado antes. Nossa própria astronave usa parte desse princípio para propulsão. Vamos ser otimistas ao menos uma vez!

— Porque realmente não existem outras alternativas, de qualquer jeito, ou estou errada? — perguntou Elisa, com uma voz decepcionada.

— Infelizmente, creio que não — disse Petri desolado, levemente cabisbaixo. — Na verdade, a única coisa que realmente temo é que, dado o tamanho reduzido do nosso toroide, não seremos capazes de absorver completamente todos os efeitos da força gravitacional, e uma parte dos grávitons conseguirá fazer seu trabalho, de qualquer forma.

— Está dizendo que essa coisa poderá não ser suficiente para impedir uma catástrofe, mesmo assim? — perguntou Elisa, aproximando-se do alienígena de maneira ameaçadora.

— Talvez não totalmente — respondeu Petri, dando um pequeno passo para trás. — Pelos meus cálculos, diria que cerca de dez por cento dos grávitons poderiam ser liberados nesse tipo de manobra.

— Então, tudo poderia ser esforço em vão?

— Absolutamente — respondeu Petri. — Reduziremos os efeitos em noventa por cento. Sobrará muito pouco para manejarmos.

— Vamos chamar de "Newark". — disse Elisa satisfeita. — Agora é melhor nos apressarmos. Sete dias passam rápido.




Base aérea Camp Adder – O refúgio


Os dois estranhos personagens, ainda vestidos de beduínos, acabavam de entrar em seu esconderijo na cidade, quando um fraco som intermitente do laptop, ainda funcionando na mesa da sala de estar, chamou-lhes a atenção.

— Quem diabos será? — perguntou o magro, irritado.

O sujeito gordo, que agora estava mancando mais do que antes, aproximou-se do computador, e depois de digitar uma senha decididamente complicada, disse: — É uma mensagem da base.

— Eles vão querer saber se a operação obteve êxito.

— Me dê um segundo para decodificá-la.

Uma série de símbolos ininteligíveis apareceu na tela, então depois de digitar uma combinação de códigos em sequência, a mensagem começou a aparecer lentamente.



General capturado e levado à base aérea Camp Adder. Requer operação imediata de resgate.



— Santo Deus! — exclamou o gordo. — Eles já sabem.

— Como diabos conseguiram?

— Bem, eles definitivamente têm mais ligações diretas do que nós. Não deixam escapar nada.

— E o que esperam que a gente faça?

— Não sei. Apenas diz aqui que devemos ir libertá-lo.

— Vestidos assim? Não acho uma boa ideia, de modo algum.

O sujeito alto e magro puxou uma cadeira da mesa, girou-a 90 graus e então, balbuciando uma série de gemidos intermitentes, caiu nela. — Só faltava essa!

Ele recostou um cotovelo na superfГ­cie polida e olhou distraidamente pela janela Г  sua frente. Notou que as janelas estavam realmente encardidas, e aquela Г  direita tinha uma rachadura que percorria quase todo o comprimento.

De repente, levantou os olhos para o companheiro, e com um sorrisinho sardônico, disse: — Acabo de ter uma ideia.

— Eu sabia, conheço esse olhar.

— Vá pegar o primeiro kit de primeiros socorros e me deixe dar uma olhada nesse galo que você tem na cabeça.

— Para ser sincero, estou mais preocupado com meu pulso. Queria saber se está quebrado.

— Não se preocupe, vou tratá-lo pra você. Eu queria ser veterinário quando era garoto.



Depois de pouco mais de uma hora e doses enormes de analgésicos e várias aplicações de pomadas, os dois comparsas estavam quase novos em folha.

Depois de se olhar no espelho pendurado na parede perto da porta de entrada, o magro disse com um sorriso: — Agora podemos ir — e passou para o quarto. Ele apareceu de novo logo depois, segurando dois uniformes militares norte-americanos passados a ferro.

— Onde conseguiu? — perguntou o gordo surpreso.

— São parte do kit de emergência que trouxe comigo. Nunca se sabe.

— Você é totalmente maluco — disse o gordo, sacudindo a cabeça ligeiramente. — E o que devemos fazer?

— Este é o plano — disse o magro, com um ar satisfeito, jogando para o colega o tamanho extra grande. — Você será o General Richard Wright, diretor de uma agência ultrassecreta do governo, que ninguém conhece.

— Obviamente, se é ultrassecreta. E você?

— Serei seu braço direito. Coronel Oliver Morris, a seu serviço, senhor.

— Então sou seu superior. Gosto disso.

— Mas não se acostume muito, ok? — disse o sujeito magro, erguendo o dedo indicador. — E esses são nossos documentos, com nossos distintivos.

— Caramba! Parecem reais.

— E isso não é tudo, meu velho — e mostrou ao outro uma folha de papel timbrado, assinada pelo Coronel Jack Hudson. — Essa é a solicitação oficial de transferência de prisioneiros para um "local seguro".

— Onde raios conseguiu isso?

— Imprimi mais cedo, enquanto você estava no banho. Pensou que era o único mago dos computadores?

— Estou impressionado. É até melhor que o original.

— Vamos entrar na base militar e deixar que entreguem o General. Se eles se oporem, podemos dizer a eles para contatar diretamente o Coronel Hudson. Não acho que celulares funcionam no espaço — e ambos deram muitas gargalhadas.



Por volta de uma hora depois, quando o sol se escondia por trás de uma duna alta de areia, um jipe militar, levando um Coronel e um General em uniformes de gala, parou na entrada da base aérea de Imam Ali ou Camp Adder, como os americanos a rebatizaram durante a guerra do Iraque. Dois militares, armados até os dentes, saíram da guarita blindada, e se moveram rapidamente em direção ao veículo. Dois outros, à distância, mantinham a visão nos passageiros.

— Boa noite, Coronel — disse o soldado mais próximo, dando uma elegante saudação militar. — Posso ver seus documentos e do General, por favor?

O Coronel magro e alto que estava sentado ao volante não disse nada. Ele tirou um envelope amarelo do bolso interno da jaqueta e entregou ao soldado. Este levou algum tempo lendo e apontou a lanterna nos rostos dos dois algumas vezes. O General visivelmente sentiu uma gota de suor que, a partir do galo em sua testa, começava a escorrer lentamente pelo nariz, e então cair no terceiro botão da sua jaqueta, que estava absurdamente tesa pela força do enorme estômago por debaixo.

— Coronel Morris e General White — disse o militar, novamente apontando a lanterna no rosto do Coronel.

— Wright, General Wright! — respondeu o Coronel magrelo num tom irritado. — Qual é o problema, Sargento, não consegue ler?

O Sargento, que pronunciara o sobrenome do General incorretamente de propósito, sorriu ligeiramente e disse: — Arranjarei para que alguém os acompanhe. Sigam esses homens — e com um aceno, ordenou aos dois militares para os levarem à prisão.

O Coronel ligou devagar o motor do jipe. Ainda não havia andado uns doze metros, quando ouviu um grito: — Pare, senhor!

O sangue gelou nas veias dos dois ocupantes do veículo. Permaneceram imóveis por longos momentos, até a voz continuar, dizendo: — Esqueceram seus documentos.

O corpulento General deu um suspiro de alГ­vio tГЈo grande que todos os botГµes do seu uniforme quase estouraram.

— Obrigado, Sargento — disse o homem magro, estendendo a mão ao soldado. — Estou envelhecendo mais cedo que pensei.

Eles partiram de novo no jipe e seguiram os dois soldados, que prosseguindo em ritmo acelerado, rapidamente os levaram à entrada de um edifício baixo e definitivamente desgastado. O soldado mais jovem bateu na enorme porta e entrou sem esperar resposta. Em seguida, um grande homem negro, completamente careca, com listras de sargento e rosto de valentão, apareceu na porta e ficou em posição de sentido. Fez uma saudação e disse: — General, Coronel. Entrem, por favor.

Os dois oficiais saudaram em resposta, e tentando ignorar as várias dores que começavam a reaparecer, entraram na grande sala.

— Sargento — disse o sujeito magro com determinação. — Temos aqui uma ordem escrita do Coronel Hudson nos autorizando a levar o General Campbell — e entregou ao outro o envelope amarelo.

O enorme sargento abriu e ficou lendo o conteúdo. Então, olhando fixamente com olhos penetrantes e escuros os do Coronel, proferiu: — Terei de verificar.

— Prossiga — respondeu o oficial tranquilamente.

O enorme homem negro tirou outra folha de papel de uma gaveta na mesa e comparou-a cuidadosamente com a que estava em sua mão. Olhou de novo para o Coronel e sem mostrar emoção, acrescentou: — A assinatura é a mesma. Importa-se se eu ligar para ele?

— É seu dever. Mas vamos ser rápidos, por favor. Já perdemos muito tempo — respondeu o Coronel magrelo, fingindo estar prestes a perder a paciência.

De nenhum modo assustado, o sargento lentamente levou a mГЈo ao bolso do uniforme e tirou seu celular. Digitou um nГєmero e esperou.

Os dois oficiais prenderam a respiração até o militar, depois de apertar um botão no celular, comentar laconicamente: — Fora de alcance.

— Então, sargento, vamos andando? — exclamou o oficial num tom mais autoritário que antes. — Não podemos ficar aqui a noite toda.

— Vá e traga o General — o enorme sargento ordenou a um dos soldados que acompanhara os dois oficiais.



Após alguns minutos, um homem completamente calvo, com um enorme bigode e sobrancelhas cinzentas, e dois pequenos olhos brilhantes, apareceu na porta atrás do sargento. Usava uniforme de General, mas faltava uma das estrelas de ordenança no ombro direito. Estava algemado e atrás dele, o soldado de há pouco, o mantinha na mira.

O General deu um salto ao ver os dois oficiais, e entГЈo, adivinhando o plano, permaneceu quieto e tentou parecer tГЈo triste quanto podia.

— Obrigado, soldado — disse o Coronel magricelo, retirando sua Beretta M9 do coldre. — Agora levaremos esse patife.




Astronave Theos - Plano de ação


— Não é emocionante pensar que nós dois vamos salvar a Terra, amor? — disse Elisa, olhando para o Coronel como um gato mimado, ao procurar a mão dele.

— Amor? Não é cedo demais para isso? — Jack a repreendeu, franzindo a testa.

Elisa recuou, e então quando o Coronel sorriu afetuosamente e tocou sua bochecha, ela percebeu que ele estava brincando. — Peste! Não brinque comigo de novo, senão vai ver — e começou a socar o peito dele com as duas mãos.

— Ok, ok — sussurrou Jack, abraçando-a ternamente. — Foi só um joguinho tolo. Não farei de novo.

O abraço súbito teve um efeito calmante e relaxante em Elisa. Ela sentiu toda a tensão que acumulara até então derreter de repente, como neve ao sol. Depois de tudo o que acontecera nas últimas horas, era do que precisava. Mergulhou nos braços dele, e lentamente fechando os olhos, encostou a cabeça no peito firme e se deixou levar completamente.



Enquanto isso, Azakis entrou na cabine terrivelmente estreita do H^COM e esperou resposta para a solicitação de comunicação na tela holográfica à sua frente.

Uma série de ondas multicoloridas, partindo do centro da tela, começou a criar um efeito semelhante ao de uma pedra jogada nas águas calmas de um lago. Do nada, as ondas gradualmente começaram a esvanecer e o rosto macilento e marcado pelo tempo do seu Ancião superior apareceu.

— Azakis — disse o homem sorrindo ligeiramente, enquanto erguia devagar a mão esquelética em saudação. — Como este pobre velho pode ajudá-lo?

— Revelamos a verdade para os dois terráqueos.

— Ousado — comentou o Ancião, segurando o queixo entre o polegar e o indicador. — E como reagiram?

— Digamos que depois do genuíno assombro inicial, acho que muito bem — Azakis pausou brevemente e depois disse, em tom sério: — Sugerimos o uso do superfluido do toroide para eles.

— O toroide? — exclamou o outro, levantando-se com uma agilidade de dar inveja a qualquer jovem. — Mas ainda não foi testado. Lembra-se do que aconteceu na última vez? Poderíamos criar uma flutuação de gravidade descontrolada com essa coisa e também existe o risco de criar um mini buraco negro.

— Eu sei, sei muito bem — respondeu Azakis em voz baixa. — Mas não acho que haja alternativa. Desta vez, se não adotarmos medidas drásticas, a passagem de Kodon pode ser fatal para os terráqueos.

— Qual é o seu plano?

— As estimativas são de que as órbitas dos dois planetas entrarão em interseção em menos de sete dias. Se pudesse fazer com que preparem o toroide e o tragam aqui a mim, pelo menos um dia antes.

— Isso não é tempo suficiente, você sabe.

— Terá de me conceder uma pequena margem para o posicionamento, configuração e procedimento de ativação.

— Tenho um mau pressentimento — disse o Ancião, passando a mão no cabelo grisalho.

— Petri está comigo. Tudo vai correr bem.

— Vocês dois são homens inteligentes, não duvido disso, mas muito cuidado. Essa coisa pode se tornar uma arma letal.

— Apenas nos deixe usá-la a tempo, deixe o resto conosco. Não se preocupe.

— Ok. Retornarei o contato assim que tudo estiver pronto. Boa sorte.

O rosto do seu superior desapareceu do monitor, que voltou a mostrar as mesmas ondas multicoloridas de antes.

Azakis lentamente levantou-se da cadeira desconfortável e ficou de pé com as mãos apoiadas no topo da mesa estreita por um instante. Milhares de pensamentos inundavam a sua mente, e enquanto um tremor ligeiro percorria suas costas, teve a nítida sensação de que estavam prestes a entrar num mar de desgraças.



— Zak — exclamou seu colega de aventuras animadamente, quando o viu emergir da cabine do H^COM. — O que o velho disse?

Azakis se espreguiçou e então respondeu calmamente: — Ele nos deu sua autorização. Se tudo correr como planejado, teremos o toroide, ou melhor, Newark, um dia antes das órbitas dos planetas entrarem em interseção.

— Tomara que a gente consiga. Não será fácil configurar essa coisa em tão pouco tempo.

— Está preocupado com o quê, meu amigo? — replicou Azakis com um leve sorriso. — Na pior das hipóteses, apenas abriremos uma distorção no espaço-tempo. Ela engolirá a Terra, Kodon, Nibiru e todos os outros satélites, de uma vez.

Os dois terrГЎqueos, que estavam a pouca distГўncia e que nГЈo haviam perdido uma Гєnica palavra dessa conversa, estavam petrificados.

— O que está falando? — Elisa conseguiu dizer precipitadamente, enquanto o olhava horrorizada. — Uma distorção no espaço-tempo? Engolir? Está dizendo que se esse plano não funcionar, geraremos a destruição do nosso e do seu povo?

— Bem, há uma pequena chance — comentou Azakis discretamente.

— Uma "pequena chance"? E diz isso com esse olhar calmo e sereno? Deve ser maluco! E nós, mais que vocês.

— Acalme-se, querida — interveio Jack, segurando-a pelos ombros e olhando diretamente em seus olhos. — Eles são mais inteligentes e mais preparados do que nós. Se decidiram seguir esse caminho, não podemos fazer nada a não ser apoiá-los e dar toda a ajuda que pudermos.

A doutora deu um longo suspiro e então disse: — Preciso sentar. Tivemos muitas emoções hoje. Se continuarem assim, vão me matar.

Jack tomou-a pelo braço e a levou para a poltrona mais próxima. Elisa caiu nela como um peso morto, com um gemido fraco.

— Talvez tenhamos reduzido demais a porcentagem de oxigênio na atmosfera — Azakis murmurou para seu colega.

— Tentei fazer com que fosse compatível para todos nós e para evitar de usar aqueles terríveis respiradores.

— Sei disso, amigo, mas receio que eles estejam sendo afetados excessivamente por isso.

— Ok, mudarei a mistura. Podemos nos adaptar mais facilmente.

O Coronel, porém, não parecia afetado de maneira alguma e estava de bom humor, mais do que nunca. Ação e riscos eram seu ganha-pão e sentia-se perfeitamente à vontade em situações como esta. — Bem — exclamou, enquanto se posicionava logo abaixo da imagem tridimensional do Newark, que ainda estava erguida majestosamente no meio da sala. — Essa coisa pode salvar a todos nós ou levar-nos à absoluta destruição.

— Uma análise sucinta mas válida — comentou Azakis.

— Neste momento — disse o Coronel num tom sério e com uma voz grave — creio que chegou a hora de avisar o resto do planeta sobre a catástrofe iminente.

— E como pensa em fazer isso? — perguntou Elisa, da poltrona. — Vamos pegar o telefone, chamar o presidente dos Estados Unidos e dizer: Olá, Senhor Presidente. Sabia que estamos na companhia de dois alienígenas que nos disseram que, em alguns dias, um planeta vai se aproximar e nos varrer da face da terra?

— No mínimo ele pedirá um rastreamento da ligação, chamará alguém para nos apanhar e nos levar para um manicômio — respondeu Jack, sorrindo.

— Mas você não tem um sistema de comunicação global como o nosso GCS? — Petri perguntou ao Coronel, intrigado.

— “GCS"? O que quer dizer?

— É um sistema de comunicação geral, capaz de memorizar e disseminar informações em uma escala planetária. Nós todos podemos acessá-lo, em níveis variados, por meio de um N^COM, um sistema neural implantado diretamente nos nossos cérebros, quando nascemos.

— Legal! — exclamou Elisa, surpresa. Então continuou, dizendo: — Na verdade, temos um sistema desse tipo. Chama-se internet, mas não estamos nem perto do seu nível.

— E não seria possível usar a sua "internet" para mandar uma mensagem para o planeta inteiro? — perguntou Petri, curioso.

— Bem, não é tão simples assim — respondeu Elisa. — Poderíamos inserir informações no sistema, mandar mensagens para grupos de pessoas, talvez até um vídeo curto e tentar disseminá-lo o máximo possível, mas ninguém acreditaria em nós, e certamente não chegaria a todos — Ela pensou alguns segundos e então acrescentou: — Acho que o único jeito seria com a boa e velha televisão.

— Televisão? — questionou Azakis. Então, virando-se para Petri, ele disse: — Por acaso esse não seria o sistema que usamos para receber imagens e filmes quando estávamos na rota até aqui?

— Acho que sim, Zak — e dizendo isso, começou a mexer numa série de comandos no console central. Depois de alguns segundos, trouxe algumas das sequências que haviam gravado anteriormente para a tela gigante. — É disso que estava falando?

Uma infinidade de filmes de todo tipo começou a aparecer em rápida sucessão: comerciais, noticiários, partidas de futebol e até filmes em preto e branco com Humphrey Bogart.

— Mas é Casablanca — exclamou Elisa, admirada. — Onde conseguiu tudo isso?

— Suas transmissões também irradiam para o espaço — respondeu Petri tranquilamente. — Tivemos que trabalhar um pouco no nosso sistema de recepção, mas no fim, conseguimos recebê-las.

— Foi graças a elas — acrescentou Azakis, — que conseguimos aprender a sua linguagem.

— E mais algumas bem mais complicadas — comentou tristemente Petri. — Quase fiquei doido com todos aqueles desenhinhos.

— Porém, — interveio o Coronel abruptamente — estávamos falando exatamente sobre isso, mas não acho que seja a melhor solução.

— Perdoe-me, Jack — interveio Elisa. — Não acha que seria melhor, antes de tudo, avisar seus superiores no ELSAD? Afinal, a não ser que eu não tenha entendido, ninguém mais além do próprio presidente dos Estados Unidos está no topo dessa organização, correto?

— E como sabe de tudo isso? — contestou o Coronel, atônito.

— Bem, até mesmo eu tenho as minhas fontes — disse Elisa, maliciosamente afastando uma mecha de cabelo que caíra em sua bochecha direita.

— As suas mulheres também agem assim? — perguntou Jack, abordando os dois alienígenas que estavam observando a cena, impressionados.

— Meu querido amigo, as mulheres são iguais em todo o universo — respondeu Azakis sorrindo.

— No entanto — continuou o Coronel depois de arriscar a piada, — acho que está absolutamente certa. Precisamos de uma instituição confiável para transmitir notícias tão sérias e preocupantes. Só estou um pouco apreensivo quanto às infiltrações externas que envolveram o General Campbell e os dois sujeitos que nos atacaram. O General, na verdade, era meu superior direto, mas aparentemente, ele é corrupto e traidor.

— Afinal, precisamos dar esse telefonema sobre o qual estávamos brincando? — respondeu a doutora Elisa.

— Parece absurdo, mas talvez seja a única solução.




Nova Iorque – Ilha de Manhattan


Em Manhattan, Nova Iorque, em um escritório luxuoso no trigésimo nono andar do imponente arranha-céu situado entre a Quinta Avenida e a Rua 59, um homem baixo, de aparência estilosa e bem cuidada, estava em frente a uma das cinco janelas largas, que o separava do ambiente externo. Vestia um terno cinza escuro, certamente italiano, uma vistosa gravata vermelha, e tinha o cabelo grisalho, macio e penteado para trás. Seus olhos profundos e escuros olhavam para além do vidro da janela, na direção do Parque Central, examinando sua magnificência, que, praticamente, logo abaixo de seus pés, se estendia por quatro quilômetros de comprimento e oitocentos metros de largura, representando um espaço verde inestimável, fonte de oxigênio e recreação, para os quase dois milhões de habitantes da ilha.



— Senhor Senador, com licença — disse um homenzinho calvo, com rosto sem expressão, que batia timidamente na elegante porta de madeira escura laqueada. Ao lado, uma pequena placa dourada com letras negras em itálico anunciava "Senador Jonathan Preston".

— Sim? — respondeu o homem, sem se virar.

— Há uma comunicação criptografada de vídeo à sua espera.

— Ok, receberei aqui. Feche a porta ao sair.



O homem caminhou lentamente até a elegante mesa escura e sentou-se na cadeira de couro negro macio. Com um gesto automático, tocou o nó da gravata, colocou o receptor na orelha direita e apertou um pequeno botão cinza sob a mesa. Um monitor semitransparente começou a descer do teto com um leve chiado, até assentar suavemente sobre a mesa. Ele tocou a tela e o rosto largo do General Campbell apareceu.

— General, percebo com satisfação que não é mais um hóspede do serviço penitenciário da nação.

— Senador, como vai? Queria agradecê-lo, primeiramente, pela rápida e eficiente operação de resgate.

— Acho que todo o crédito é dos dois indivíduos que estou vendo atrás de você.

Por instinto, o General se virou e viu o sujeito gordo e seu cúmplice, tentando aparecer na webcam, como o público faz quando há multidões por trás de um jornalista fazendo uma transmissão ao vivo na TV. Ele encolheu um pouco os ombros e continuou, dizendo: — Eles não são exatamente os mais brilhantes, mas são muito eficientes para certos tipos de trabalho.

— Então! Agora conte-me tudo. Seu relatório deveria estar em minha mesa mais de doze horas atrás.

— Vamos dizer que estive um pouco "ocupado" recentemente — respondeu ironicamente o General. — De qualquer forma, posso confirmar que seu pressentimento com relação ao trabalho da Doutora Hunter acertou em cheio, e graças à sua descoberta, pude presenciar pessoalmente um evento surpreendente.

O General fez uma breve pausa, esperando que a curiosidade do outro aumentasse, e então acrescentou: — Senador, eu não sei como, mas a descoberta da doutora do famigerado "vaso com conteúdo precioso", de alguma forma, deve ter ativado um sistema que atraiu para o nosso planeta, nada menos que... — E parou, ciente de que o que diria seria um pouco difícil de aceitar, então tomou um grande fôlego e sem hesitar mais, anunciou solenemente: — uma astronave alienígena.

O oficial tentou manter os olhos fixos no monitor, buscando sinais de espanto no rosto do Senador. Mas este nem piscou. Simplesmente apoiou o cotovelo na madeira escura da mesa, e segurando o queixo entre o polegar e o indicador, começou a alisá-lo suavemente. Continuou a fazer isso por alguns segundos e então simplesmente declarou: — Então, eles estão de volta.

O General nГЈo pГґde deixar de arregalar os olhos, surpreso.

EntГЈo Preston jГЎ sabia tudo sobre os alienГ­genas... Como era possГ­vel?

O Senador levantou-se vagarosamente da cadeira confortável, e entrelaçando as mãos por trás das costas, começou a andar ao redor da mesa em círculos. O General e os dois assistentes não ousaram dizer uma palavra. Limitaram-se a trocar olhares duvidosos e esperar pacientemente.

De repente, Preston voltou à sua mesa, pôs ambas as mãos nela, e olhando direto nos olhos do General, disse: — Vocês tinham um drone. Por favor, me diga que conseguiram filmar essa astronave.

O General se virou, procurando desesperadamente uma resposta afirmativa da dupla. O sujeito magro sorriu com desdém, e estufando o peito com orgulho, anunciou satisfeito: — Certamente, Senador, mais de uma vez. Enviarei imediatamente.

Sem a menor cerimônia, ele empurrou o General, e depois de mexer um pouco no teclado à frente, fez as fotos tiradas da instalação da Doutora Hunter aparecerem numa janela na tela do Senador.

Preston colocou ambos os cotovelos na mesa, inclinou o queixo nos punhos fechados das mãos e aproximou-se tanto quanto possível do monitor, para não perder uma única imagem passando na tela à sua frente. Primeiro, as imagens noturnas do recipiente de pedra descoberto enterrado sob o solo, depois as do misterioso globo negro dentro e o mesmo sendo transportado até a tenda do laboratório. Então a cena mudou para uma imagem de luz do dia. Uma estrutura circular e prateada, aparentemente apoiada em quatro feixes de luz avermelhados, vindos das arestas de um quadrado imaginário desenhado no chão, estava em plena vista. A estrutura inteira parecia ser um tipo de pirâmide truncada, e tinha uma espantosa semelhança com o Zigurate de Ur, que podia ser visto se erguendo majestosamente em segundo plano.

O Senador não conseguiu tirar os olhos da tela. Quando viu os dois personagens de aparência humana, definitivamente mais altos e volumosos que a média, aparecerem na abertura da estrutura prateada e se posicionarem, com as pernas separadas, no que seria uma plataforma de descida, não pode evitar um sobressalto ao sentir o coração bater freneticamente no peito.

O sonho que esteve perseguindo por toda sua vida finalmente se tornou realidade! Todos os seus estudos, sua pesquisa, acima de tudo, o capital considerável que investira nesse projeto estavam finalmente dando os resultados que esperava. Os personagens que estava observando na tela eram realmente dois alienígenas, que a bordo da astronave extremamente avançada, cruzaram o espaço interplanetário para voltar à Terra. Agora ele poderia mostrar, a todas as pessoas que sempre o criticaram, que seus cálculos eram absolutamente exatos. O décimo segundo misterioso planeta do sistema solar realmente existia! Depois de 3.600 anos, sua órbita estava prestes a cruzar a órbita terrestre novamente, e ali, diante dele, estavam dois dos seus habitantes, que aproveitando a "viagem" do planeta, retornaram para visitar, e mais uma vez, influenciar nossa cultura e nossas vidas. Já havia acontecido sabe lá quantas vezes no decorrer dos milênios e agora a história se repetia. Dessa vez, porém, ele também estava lá e certamente não deixaria escapar a oportunidade única.

— Bom trabalho — disse simplesmente o Senador para os três rostos que o olhavam apreensivamente. Então, depois de girar a cadeira, acrescentou: — O fato, General, de que você permitiu a descoberta, complicará as coisas um pouco. Não teremos mais a possibilidade de manter contato oficial dentro do ELSAD, mas neste momento, não estamos mais interessados...

— O que quer dizer, Senador?

— Nosso objetivo agora não é descobrir se as suposições da Doutora Hunter estavam corretas, nem ficar de posse do precioso "conteúdo".

— Sim, porque era tudo exceto precioso, de qualquer forma — sussurrou o sujeito gordo.

— Podemos passar diretamente para a fase dois — continuou o Senador, fingindo não ter escutado. — Estamos diante de uma tecnologia incrivelmente avançada e eles estão nos oferecendo de mãos beijadas. Tudo o que precisamos fazer é simplesmente tomá-la, antes que alguém mais se meta nisso.

— Permita-me, Senador — arriscou o General timidamente. — Meus dois ajudantes descobriram, às próprias custas, que nossos dois adoráveis alienígenas não pareciam de modo algum dispostos a cooperar.

— Vamos apenas dizer que nos deram uma surra — acrescentou o sujeito gordo, esfregando o joelho.

— Posso imaginar o tipo de abordagem que usaram — retorquiu o Senador, com um leve sorriso. — Sequer imaginaram como puderam estabelecer relações tão cordiais com a Doutora e o Coronel Hudson?

— Para dizer a verdade, pareceu realmente esquisito — respondeu o General. — Com eles, comportaram-se como se os tivessem conhecido a vida inteira.

— Em vez disso, acredito que se mostraram bem mais cordiais e agradáveis que vocês.

— Bem, para ser justo, não fomos exatamente delicados com eles.

— O que aconteceu, aconteceu — proferiu o Senador. — Agora somente tentem se concentrar na próxima missão. Vocês dois, rastreiem o Coronel e a sua amiga. Não quero que tirem os olhos deles nem um instante. Vocês têm meios e recursos disponíveis. Não admitirei erros desta vez.

— Agora, quem vai dizer a ele que os dois estão dando uma volta ao redor da Terra? — sussurrou o sujeito gordo no ouvido do magro, pouco antes de soltar um gemido fraco, provocado pelo chute na canela esquerda que seu cúmplice acabara de lhe dar.

— E você, General, virá me pegar no aeroporto.

— Está vindo para cá pessoalmente? — exclamou o oficial, surpreso.

— Não perderia esse evento por nada nesse mundo. Se essa é a base de pouso deles, terão de retornar, mas dessa vez haverá uma bela comissão de boas vindas para eles. Darei instruções quando estiver a caminho. Boa sorte a todos — e encerrou a conversa.

O Senador permaneceu imóvel por mais alguns instantes, olhando o monitor, que, após o fim da transmissão, agora mostrava uma série de fotos espetaculares do deserto do Arizona, sucessivamente. Então, como se algo o tivesse despertado repentinamente, pulou de pé, apertou o botão no comunicador na mesa e disse ao microfone embutido: — Arranje para que preparem meu avião e chame meu motorista. Quero estar em voo dentro de uma hora, o mais tardar.




Astronave Theos – O presente


— Devemos voltar e descer — disse o Coronel Hudson aos dois alienígenas. — Preciso fazer alguns telefonemas e realmente acho que daqui não será possível.

— Eu não teria tanta certeza — respondeu Azakis sorrindo. — Sabe, se o velho e bom Petri se empenhar seriamente, ele pode fazer coisas que você nem imagina — e deu ao seu colega uma palmada nas costas.

— Acalmem-se, por favor — respondeu Petri com as mãos no ar. — Antes de mais nada, defina o conceito de "telefonema".

Jack, pego de surpresa pela pergunta aparentemente trivial, virou-se para Elisa, que primeiro encolheu os ombros, e então, apontando para o bolso do Coronel, disse abertamente: — Mostre a eles o seu telefone, sim?

Com um movimento rápido, Jack retirou seu smartfone. Era uma tela de toque um pouco antiga. Ele nunca gostou de seguir a tendência absurda de sempre ter o último modelo de celular. Preferia familiar, sem precisar perder tempo aprendendo todas as novas funções.

— Não sou engenheiro — disse Jack, mostrando o celular para o alienígena, — mas com isto, é possível conversar com outra pessoa que tenha um semelhante, apenas digitando seu número neste teclado.

Petri tomou o celular e examinou-o cuidadosamente. — Deve ser um sistema de transmissão individual, parecido com os nossos comunicadores portáteis.

— Com uma única diferença — acrescentou Elisa — toda vez que usamos, engole um monte do nosso dinheiro.

Pensando que o conhecimento limitado da linguagem deles não lhe permitia compreender todos os conceitos, Petri resolveu ignorar esta última afirmação e continuou a analisar o objeto que tinha nas mãos. — Necessitarei de um tempinho para entender como funciona.

— Claro, não tenha pressa — respondeu Elisa, desolada. — Afinal de contas, não é como se um planeta estivesse prestes a colidir com o nosso.

Petri entГЈo a olhou, perplexo, e percebendo que tambГ©m nГЈo entendera essa piada, resolveu nГЈo dizer mais nada. Simplesmente encolheu os ombros e entrou no mГіdulo de transferГЄncia interna mais prГіximo, desaparecendo em segundos.



— Bem, supondo que seja possível fazer seu celular funcionar daqui, como estava pensando em proceder? — Elisa perguntou, enquanto tentava se recuperar da fraqueza provocada pela falta de oxigênio e pelas inúmeras emoções que passara nas últimas horas.

— Inicialmente pensei em contatar o Senador Preston, o superior direto do General Campbell. Mas como ele nunca me pareceu convincente, resolvi seguir um caminho diferente para chegar ao Presidente.

— Acha que ele também pode estar envolvido?

— Esses dois demônios nunca foram honestos comigo. Existe rumores de que Preston esteja envolvido com alguns fabricantes de armas decididamente inescrupulosos. Não confio nele.

— Então?

— Então, vou falar diretamente com o Almirante Benjamin Wilson. Ele era o braço direito do Presidente por vários anos e também um grande amigo de meu pai.

— Era?

— Infelizmente, meu pai nos deixou faz quase dois anos.

— Lamento... — sussurrou Elisa, afagando suavemente o braço esquerdo dele.

— Wilson me segurou nos joelhos quando eu era pequeno. É uma das poucas pessoas em quem confio cegamente.

— Não sei o que dizer. Não importa o quanto seja próximo dele, acho que será difícil que aceite uma história como essa pelo telefone.

— Eu poderia mandar algumas fotos da vista de sua cidade daqui de cima.

— Com os nossos sensores de curto alcance — observou Azakis, que até então ficara quieto — poderíamos contar as batidas por minuto de seu coração, em tempo real.

— Por favor, não brinque — exclamou Elisa, dando ênfase com um gesto da mão.

— Não acredita em mim? Veja isto então.

Por meio do seu O^COM, Azakis fez com que a visГЈo sobre o acampamento-base da doutora aparecesse na tela gigante. Em poucos segundos, ampliou a imagem para trazer a tenda do laboratГіrio em plena vista.

— O que estão vendo...

— é a minha tenda — exclamou Elisa antes que Azakis pudesse terminar a frase.

— Exatamente. Agora observem.

De repente, era como se a cobertura da tenda tivesse desaparecido e ela podia ver perfeitamente todos os objetos dentro.

— Minha mesa, meus livros... inacreditável!

— Se houvesse alguém dentro, eu poderia lhe mostrar o calor gerado pela circulação sanguínea e portanto, poderia também calcular seu ritmo cardíaco.

Decididamente satisfeito com a demonstração, o alienígena começou a vagar orgulhoso pela sala.

Entretanto o Coronel, que ainda não havia se recuperado do espanto, de repente parecia ter sido atingido por um trovão, e exclamou de modo grosseiro: — Que quer dizer, "houvesse alguém"? Deveria haver alguém. Onde diabos estão os dois prisioneiros?

Elisa foi mais para perto da tela para ter uma visão melhor. — Talvez foram levados. Poderíamos ter uma visão completa do restante da instalação?

— Sim, claro.

Em alguns segundos, Azakis começou a mostrar uma visão geral do acampamento. Os sensores examinaram todos os lugares, mas não havia sinal dos dois prisioneiros.

— Devem ter escapado — disse o Coronel laconicamente. — Isso quer dizer que logo os encontraremos sob os nossos pés de novo. Felizmente o General foi levado a um lugar seguro por meus homens. Esses três são capazes de causar mais danos que o próprio diabo.

— Não importa — disse Elisa. — Temos problemas muito maiores agora.

Ela mal terminou a frase quando a porta do módulo de comunicação interna número três se abriu. Uma moça atraente saiu de dentro, com passos suaves e sinuosos. Estava segurando um tipo de bandeja totalmente transparente, em que haviam recipientes diferentes e coloridos.

— Senhoras e Senhores — anunciou Azakis pomposamente, mostrando um dos seus melhores sorrisos. — Permitam-me apresentar a vocês a navegadora mais encantadora de toda a galáxia.

Jack, cujo queixo caГ­ra de deslumbramento, somente conseguiu gaguejar "OlГЎ", antes de receber uma cotovelada no lado direito, bem entre as costelas.

— Bem-vindos a bordo — disse ela, num inglês um pouco vacilante. — Espero que estejam com fome. Trouxe algo para comerem.

— Obrigada, é muito amável — disse Elisa furiosamente, os olhos faiscando para o seu homem.

A moça não disse mais nada. Colocou a bandeja num suporte à esquerda deles e seu rosto se iluminou com um lindo sorriso, e então alguns segundos depois, desapareceu de novo para dentro do mesmo módulo em que chegara.



— Bonita, não? — comentou Azakis, observando o Coronel.

— Bonita? Quem? O quê? — Jack se apressou a responder, atento à cotovelada que acabara de receber.

Azakis explodiu em gargalhadas, e com um aceno de mГЈo, convidou-os a se servirem.

— Que raios é isso? — murmurou Elisa, enquanto cheirava de maneira deselegante os diversos pratos.

— Fígado de Nebir — o alienígena se apressou a enumerar, — Hanuk e raízes cozidas de Hermes, tudo acompanhado por, digamos, uma bebida "energética".

— Completamente diferente do restaurante Masgouf — comentou laconicamente Elisa. — Como estou faminta, vou experimentar.

Ela apanhou um pedaço de costela com as mãos, e sem muito esforço, começou a mastigá-lo até o osso. — Essa comida não vai dar uma enorme dor de barriga, não é Zak? Experimente também, meu amor. O gosto é um pouco estranho, mas não é de todo ruim.

O Coronel, que estava observando Elisa horrorizado enquanto ela devorava todas aquelas comidas esquisitas da bandeja, sem reservas, apenas murmurou: — Não, não, obrigado. Não estou com fome.

Em vez disso, sua atenção se prendeu à estranheza da bandeja e aos recipientes usados como pratos. Ele apanhou um de cor vermelho vivo e testou sua consistência. Era esquisito e bem gelado. Mais gelado do que deveria ser, e apesar disso, a comida estava fervendo. Percorreu levemente, com a ponta do indicador, a superfície. Era incrivelmente liso. Não parecia ser de metal nem de plástico. Por outro lado, como poderia ser plástico? Eles o utilizavam para propósitos completamente diferentes. A outra coisa mais bizarra era que, apesar da perfeição do acabamento da superfície, não havia absolutamente nenhum reflexo. A luz parecia ser engolida pelo material misterioso. Colocou o ouvido perto da superfície lisa, e com o nó do dedo médio, começou a dar batidinhas. Inacreditavelmente, o recipiente não emitiu nenhum som. Era como bater num grande pedaço de algodão.

— Mas do que esses objetos são feitos? — perguntou, extremamente curioso. — E a bandeja? Parece ser do mesmo material.

Um pouco surpreso com a estranha pergunta, Azakis tambГ©m se aproximou da bandeja. Apanhou outro recipiente, verde pГЎlido, e ergueu-o ao nГ­vel dos olhos.

— Na realidade, não é um "material".

— Em que sentido? O que quer dizer?

— O que vocês usam para segurar objetos, comida, líquidos ou substâncias em geral?

— Bem, normalmente usamos caixas de madeira ou papelão para transportar materiais. Para servir comidas, usamos panelas de metal, pratos de cerâmica e copos de vidro. Para transportar ou guardar comidas e líquidos em geral, usamos recipientes plásticos de formatos diversos.

— Plástico? Está falando do plástico em que estamos interessados? — perguntou Azakis, espantado.

— Creio que sim — respondeu o Coronel suavemente. — Na verdade, o plástico se tornou um dos maiores problemas da poluição do nosso planeta. Vocês até nos disseram que encontraram quantidades exageradas em todos os lugares — Ele fez uma breve pausa e acrescentou: — É por isso que sua oferta de recolhê-lo nos atraiu tanto. Talvez encontramos a solução para um enorme problema.

— Então, se entendi direito, vocês usam plástico como recipientes e então jogam tudo fora sem restrições, poluindo todos os cantos do seu planeta?

— Exatamente — respondeu Jack, cada vez mais envergonhado.

— Mas isso é loucura, é absurdo. Estão se envenenando com as próprias mãos.

— Bem, se também levar em conta toda a fumaça causada pelos meios de locomoção, das fábricas e sistemas de geração de energia, nós realmente conseguimos fazer coisas piores. Sem mencionar o lixo radioativo que não sabemos como eliminar.

— São completamente malucos! Estão destruindo o planeta mais belo de todo o sistema solar. E infelizmente, é nossa culpa também.

— Como assim?

— Bem, fomos nós que modificaram seu DNA, há centenas de milhares de anos ou mais. Demos a vocês uma inteligência superior a quaisquer outros seres na Terra e para quê a usaram?

— Para arruinar o planeta — Jack disse cabisbaixo, como um estudante levando bronca do professor por não ter feito a lição de casa. — Mas agora vocês estão de volta! Realmente espero que nos ajudem a consertar o estrago que fizemos.

— Não acho que será fácil — disse Azakis, tornando-se cada vez mais preocupado. — De acordo com a análise de Petri do estado dos seus oceanos, vimos que a quantidade de peixes foi reduzida em oitenta por cento desde a última vez que estivemos aqui. Como isso foi acontecer?

A essa altura, Jack só queria que o chão se abrisse e o engolisse. — Não há desculpa para isso — foi tudo o que conseguiu dizer, quase num sussurro. — Somos apenas um grupo de seres condescendentes, arrogantes, convencidos, tolos e irracionais.



Elisa, que esteve escutando em silêncio o discurso de Azakis, engoliu o último pedaço de fígado de Nebir, limpou os lábios com as mãos e então disse baixinho: — Não somos todos assim, sabe?

O alienígena olhou-a surpreso, mas ela continuou determinada: — São aqueles que estão "no poder" que nos reduziram a esse estado. Muitas pessoas normais lutam todos os dias para proteger o meio ambiente e as formas de vida que habitam nosso querido planeta. É fácil vir aqui, de milhões de quilômetros, depois de milhares de anos e moralizar. Vocês podem nos ter dado inteligência, mas não nos deixaram nem um pedaço do manual de instruções!

Jack a olhou e percebeu que estava perdidamente apaixonado por aquela mulher.

Azakis não tinha palavras. Ele certamente não esperava uma reação como aquela. Elisa, no entanto, continuou desimpedida: — Se realmente querem nos ajudar, devem disponibilizar todo o seu conhecimento tecnológico, médico e científico, o mais rápido possível, pois certamente não ficarão neste planeta devastado por muito tempo.

— Ok, ok. Não fique tão transtornada — Azakis tentou responder. — Acho que nos colocamos à sua disposição, sem hesitar, ou não?

— Sim, eu sei. Desculpe-me... Vocês já poderiam ter levado o seu plástico e ido embora sem dizer adeus, e em vez disso, estão aqui, arriscando suas vidas, junto de nós.

Elisa estava realmente arrependida pelo desabafo. Então, para acalmar um pouco a situação, exclamou alegremente: — Mas a comida estava deliciosa! — Então, aproximou-se do alienígena e olhando acima para ele, disse delicadamente: — Desculpe, não deveria ter dito isso.

— Não se preocupe, compreendo totalmente e para mostrar que não guardo rancor, lhe darei isto.

Elisa abriu a sua mГЈo e Azakis lhe entregou um pequeno objeto escuro.

— Obrigada, mas o que é isso? — perguntou, curiosa.

— É a solução para seus problemas com o plástico.




Nassíria – O jantar


Depois que o Senador encerrou a conversa abruptamente, os trГЄs ficaram olhando o monitor, que mostrava desenhos abstratos e multicoloridos se mesclando continuamente.

— E agora? — perguntou o sujeito magro e alto, interrompendo aquela hipnose coletiva.

— Tenho uma ideia — respondeu o grandalhão. — Já faz algum tempo que comemos e estou vendo hambúrgueres por toda parte.

— E onde pensa que vamos encontrar hambúrguer agora?

— Não tenho a menor ideia, mas sei que se eu não comer algo logo, vou desmaiar.

— Ah, coitadinho, ele vai desmaiar — disse o magrelo com uma voz infantil. Então mudou seu tom: — Com todos esses pneus de gordura, poderia passar um mês sem comer.

— Ok, parem os dois com essa idiotice — exclamou o General, irritado. — Precisamos elaborar um plano de ação.

— Mas não consigo raciocinar de estômago vazio — disse baixinho, o gordão.

— Está bem então, — Campbell exclamou, erguendo as mãos, derrotado. — Vamos arranjar comida. E bolar um plano depois, pois temos bastante tempo até o Senador chegar.

— Assim é que se fala, General — exclamou o gordão alegremente. — Conheço um restaurante razoável onde fazem um fantástico guisado de cordeiro com batatas, cenouras e ervilhas ao molho curry.

— Bem, confesso que depois dessa descrição detalhada, também fiquei com um pouco de fome — disse o magrelo, esfregando as mãos rapidamente.

— Muito bem, me convenceu — disse o General, erguendo-se da cadeira. — Vamos andando, mas com cuidado para não sermos pegos. Duvido que já saibam, mas, para todos os efeitos, sou um fugitivo.

— E nós dois também não somos? — respondeu o magrelo. — Fugimos do acampamento e com certeza vão procurar por nós em todo lugar. Mas, por ora, não importa.



Alguns minutos depois, um carro escuro levando trГЄs sujeitos suspeitos acelerou noite adentro pelas ruas semidesertas da cidade, levantando uma leve nuvem de poeira.

— É aqui, chegamos — disse o grandalhão, que estava no banco de trás. — Está um pouco tarde, mas eu conheço o dono. Não haverá problemas.

O magrelo, que estava dirigindo, procurou um lugar fora de vista para estacionar. Deu uma volta no quarteirГЈo e entГЈo estacionou debaixo do telhado de um barraco abandonado. Rapidamente saiu do carro e observou cautelosamente toda a redondeza, muito atento. NГЈo havia ninguГ©m por perto.

Deu uma volta pelo carro, abriu a porta do passageiro e disse: — Tudo quieto, General. Podemos ir.

O grandalhão também saiu do carro e avançou com passos rápidos em direção à entrada principal do estabelecimento. Tentou girar a maçaneta, sem sucesso. A porta estava trancada, e uma luz estava acesa dentro. Então tentou espiar pelo vidro, mas a grossa cortina colorida não lhe permitia entrever muita coisa. Sem perder mais tempo, começou a bater vigorosamente e não parou até ver um homenzinho, de cabelo enrolado e negro, surgir por detrás da cortina.

— Mas quem diabos... — o homenzinho começou a exclamar numa voz irritada, e quando reconheceu o amigo corpulento, parou no meio da frase e abriu a porta.

— Ah, é você. Que faz aqui a essa hora da noite? E quem são esses homens?

— Olá, seu velho gatuno, como vai? São meus amigos e estamos famintos.

— Mas o restaurante está fechado, já fiz a limpeza na cozinha e estava indo embora.

— Acho que este outro amigo meu vai te convencer — e abanou um nota de cem dólares na frente do seu nariz.

— Bem, na verdade… Devo dizer que vai — respondeu o homenzinho, arrancando a cédula da mão do gordo e fazendo-a sumir dentro do bolso da camisa. — Por favor, entrem — disse, escancarando a porta e curvando-se levemente ao mesmo tempo. Depois de rápidos olhares para trás para checar se alguém estava observando, os três, um após o outro, se esgueiraram para dentro do pequeno restaurante.



Havia dois cômodos que não pareciam estar particularmente bem cuidados. O chão era feito de lajes ásperas e escuras. No cômodo maior, três mesas baixas e redondas, cada uma sobre um tapete velho desbotado, estavam rodeadas de almofadas, também um pouco surradas. Porém, no outro cômodo, a decoração era mais ocidental, e bem mais aconchegante. Cortinas enormes em tons quentes cobriam as paredes. A iluminação era suave e o ambiente definitivamente muito mais acolhedor. Duas mesas pequenas já estavam preparadas, prontas para os fregueses do dia seguinte. Cada uma tinha uma toalha de mesa verde escura, com bordados multicoloridos, guardanapos da mesma cor, pratos marcadores de porcelana com bordas prateadas, garfos à esquerda, facas e colheres à direita, e no centro, uma longa vela amarela escura num pequeno castiçal de pedra negra.



— Podemos passar para lá? — perguntou o grandalhão, apontando o cômodo menor, com a enorme mão direita.

Sem responder, o homenzinho de cabelo enrolado foi ao cômodo menor, empurrou junto as duas mesas e arrumou as cadeiras, e então com uma reverência e um grande gesto teatral, disse: — Por favor, sentem-se, senhores, estarão mais confortáveis aqui.

Os três se sentaram à mesa e o grandalhão disse: — Faça seu prato especial e enquanto isso traga-nos três cervejas — Então, sem deixá-lo responder, acrescentou: — E não faça manha. Sei que tem várias caixas de cerveja escondidas por aí.



O General esperou o dono desaparecer para dentro da cozinha, e então retomou a conversa que tiveram há pouco. — O Senador é impiedoso. Devemos ser cautelosos. Se algo der errado, ele não hesitará em contratar alguém para se livrar de nós.

— Fabuloso — respondeu o gordão. — Parece que todo mundo está perdidamente apaixonado por nós, não?

— Vamos fazer nosso trabalho da melhor maneira possível, e nada vai acontecer conosco — comentou o magrelo, que até então estivera quieto. — Conheço o tipo, se não criarmos problemas e fizermos tudo que nos mandam, ficará tudo bem e cada um terá a sua merecida recompensa.

— Sim, um tiro no meio da testa — respondeu baixinho, o grandalhão.

— Vamos, não seja pessimista. Deu tudo certo até agora, não foi?

— É, até agora.



Enquanto isso, escondido na cozinha, o dono do restaurante estava conversando discretamente em árabe ao telefone: — É ele, estou lhe dizendo, é ele.

— É inacreditável que apareceu aí sem uma escolta apropriada.

— Está com outros dois. Conheço bem um deles e tenho certeza de que faz parte de alguma organização esquisita, que poderia estar ligada a ele de alguma forma.

— Consegue tirar uma foto e mandá-la para mim? Não quero me preparar para atacar e depois descobrir que é simplesmente um caso de identidade errada.

— Ok, vou ver o que posso fazer. Me dê alguns minutos.

O homem encerrou a chamada, ligou a câmera do celular, então colocou-o no bolso da camisa, de forma que a lente não estivesse totalmente coberta, e apanhando uma bandeja de alumínio, pôs três copos grandes sobre ela. Abriu três garrafas de cerveja e colocou-as próximas a cada um dos copos. Então ergueu a bandeja com a mão direita, tomou um grande fôlego e foi em direção à mesa ocupada pelos três companheiros de jantar.

— Espero que gostem da marca — disse, enquanto entregava as bebidas. — Infelizmente não temos muitos tipos diferentes. As leis daqui são bem rigorosas quanto a bebidas alcoólicas.

— Sim, sim, não se preocupe — disse o grandalhão ao pegar a garrafa e começar a se servir, enchendo o copo de espuma.

O homem, tomando cuidado especial em se posicionar diretamente em frente ao general, apanhou seu copo, inclinou-se um pouco e colocou quase metade da garrafa nele. Então, fazendo o mesmo com o copo do magrelo, exclamou: — Pronto! Não precisam de um pobre iraquiano para ensinar três americanos a servir cerveja, certo?

Risadas altas explodiram espontaneamente entre os trГЄs convivas, que, erguendo seus copos, fizeram um brinde auspicioso.

O dono, curvando-se levemente, retirou-se novamente para a cozinha. Assim que passou pela entrada, verificando se ninguém estava olhando, checou a gravação que havia feito no celular. As fotos estavam um pouco trêmulas, mas o rosto rechonchudo do general Campbell estava claramente visível. Imediatamente enviou o filme para o número que havia chamado antes e então esperou pacientemente. Em menos de um minuto, o celular vibrou suavemente, avisando-o do recebimento de chamada.

— É ele — disse a voz no outro lado. — Estaremos aí em uma hora, no máximo. Não deixem que saiam antes de chegarmos, em hipótese alguma.

— Acabaram de chegar e ainda vão começar a jantar. Você tem bastante tempo — e desligou.




Astronave Theos – O Almirante


Elisa ainda estava observando o pequeno objeto peculiar que Azakis colocara em sua mão, quando a porta número seis do módulo de comunicação interna se abriu. Petri surgiu com um grande sorriso, segurando o celular do Coronel.

— Consegui — exclamou — ou, pelo menos, assim espero — E rapidamente se juntando aos outros três no centro da ponte de comando, continuou: — Sem dúvida, é um sistema antigo, mas acho que consegui identificar o princípio de funcionamento. Conectei a um desses satélites que circulam lentamente em torno do planeta numa órbita mais baixa que a nossa, e agora acho que será possível fazer um”telefonema”.

— Bom trabalho, meu amigo — exclamou Azakis. — Sabia que conseguiria.

— Antes de cantar vitória, vamos ver se realmente funciona — disse Jack, tirando o celular das mãos do alienígena. O Coronel olhou cuidadosamente para a tela e então disse surpreso: — É inacreditável, tenho três barras de sinal.

— Vá em frente, tente — sugeriu Elisa, toda empolgada.

Jack rapidamente passou os olhos pela lista de contatos e encontrou o número do Almirante Wilson. Mas antes de chamar, teve uma dúvida repentina: — Que horas são agora em Washington?

— Bem, deve ser duas e meia da tarde — respondeu Elisa, depois de olhar no relógio de pulso.

— Ok, vou tentar então — Jack tomou um grande fôlego e então apertou a tecla "ENTER". O celular estava chamando. Inacreditável...

Ele esperou pacientemente e somente após o sétimo toque, uma voz rouca e grave atendeu: — Almirante Benjamin Wilson, quem é?

— Almirante. É o Coronel Jack Hudson. Consegue me ouvir?

— Sim, meu caro, alto e claro. É um prazer ouvi-lo depois de tanto tempo. Está tudo bem?

— Almirante... Sim, sim, obrigado... — Jack estava muito encabulado e não sabia exatamente por onde começar. — Estou lhe incomodando porque temos um assunto de extrema urgência, mas sobretudo inacreditável.

— Pelo amor de Deus, filho, não faça suspense. Que diabos está acontecendo?

— Bem, é difícil explicar. Você confia em mim, não é?

— É claro, que pergunta é essa?

— O que estou prestes a dizer pode parecer absurdo, mas garanto que é a verdade, pura e simples.

— Jack, se não me contar imediatamente, meu pobre e velho coração vai parar.

— Ok — O Coronel fez uma breve pausa, e então desembuchou de uma só vez: — Neste momento, estou em órbita em volta da Terra. Estou numa astronave alienígena e tenho notícias terríveis para relatar diretamente ao Presidente dos Estados Unidos. Você é a única pessoa de confiança que pode me colocar em contato com ele. Juro pela memória do meu pai que isso não é uma piada.

Longos segundos se passaram, sem ouvirem nada do alto-falante do celular. Por um momento, Jack temeu que o Almirante estivesse aterrorizado. Então a voz rouca do outro lado disse: — Mas está realmente me chamando daí de cima? Como diabos consegue fazer isso?

Wilson realmente era surpreendente. Em vez de se preocupar com alienГ­genas, ficava imaginando como consigo usar meu celular daqui de cima... FormidГЎvel...



— Bem, com a tecnologia deles, conseguiram fazer algum tipo de conexão com um satélite de telecomunicação. Não posso lhe dizer mais que isso.

— Alienígenas. Da onde são? E o que exatamente é essa catástrofe iminente? E por que escolheram você?

— Almirante, é uma longa história que espero ter tempo de lhe contar, mas por ora, a coisa mais importante é que me ponha em contato com o Presidente o mais depressa possível.

— Meu querido rapaz, confio plenamente em você, mas para conseguir que o Presidente acredite numa história como essa, precisarei algo mais que um simples telefonema.

— Sim, imaginei isso e me parece justo — continuou Jack. — E se eu dissesse que neste momento, você está sentado numa poltrona marrom escura, com uma cópia do New York Times, será que a minha história seria mais convincente? — Petri conseguira identificar as coordenadas do Almirante por meio do sinal do celular, posicionara a Theos bem no zênite da cidade e ativou os sensores de curto alcance, apontados diretamente para a fonte das emissões.

— Raios me partam — exclamou o Almirante, pulando e deixando o jornal cair no chão. — Como é que sabe disso? Não existem câmeras ocultas aqui. Meu escritório é verificado todos os dias.

— Bem, não estou exatamente usando uma "câmera" para vê-lo. Digamos que é um sistema de visualização absolutamente incrível. Estamos a uma distância de 50.000 quilômetros da Terra, e pude ler com facilidade seu jornal, da onde estou. Posso até informar seu batimento cardíaco.

— Está brincando, não é?

Jack olhou para Petri, que imediatamente mudou o modo de visualização.

Agora a figura do Almirante aparecia avermelhada, com vários matizes de amarelo e cinza escuro. Alguns números surgiram no canto superior direito da tela.. Jack os leu e disse: — Seu batimento cardíaco é de noventa e oito por minuto e sua pressão arterial é de 135/90 mmHg.

— Sim, eu sei, é um pouco alta. Tomo remédio para controlar, mas nem sempre funciona. É a idade, sabe... — Então ele ponderou um momento e exclamou: — Mas é absolutamente incrível, é surpreendente! Será que você consegue fazer a mesma coisa com o Presidente?

— Acho que sim — respondeu Jack, esperando um sinal positivo de Petri, que simplesmente assentiu de leve.

— Poderia pelo menos me dar uma pista sobre o que vai acontecer com nós todos? Considerando que eles vieram sabe-se lá de onde para nos avisar, é sinal de que deve ser um evento bastante grave.

— Ok, acho justo você saber.

Elisa estava encorajando-o a continuar com gestos das mГЈos e fazendo caretas esquisitas com a boca.

— O planeta deles está chegando perto do nosso num ritmo vertiginoso. Um dos seus satélites, Kodon para ser exato, vai se aproximar e nos atingir em menos de sete dias, e poderia causar uma série de transtornos indescritíveis. Até a nossa órbita e a da Lua poderiam ser afetadas. Ondas gigantescas na Terra poderiam varrer áreas submersas e as águas poderiam levar milhões e milhões de pessoas. Em resumo, uma catástrofe.

O Almirante estava emudecido. Ele afundou pesadamente na sua poltrona marrom, e em voz baixa, somente conseguiu sussurrar: — Bem, raios me partam.

— Na verdade, nossos amigos aqui gostariam de disponibilizar para nós um sistema que seja capaz de conter a maioria dos efeitos do desastre, mas é um procedimento muito perigoso, que nunca foi testado. Além disso, mesmo que tudo dê certo, na melhor maneira possível, não conseguiríamos sair ilesos do acontecimento. Uma parte da influência planetária, embora pequena, infelizmente não pode ser controlada. Portanto, devemos nos preparar para reduzir a um mínimo os danos e as perdas.

— Meu caro jovem — respondeu sutilmente o Almirante. — Eu realmente acho que o Presidente deve ficar imediatamente a par de tudo o que acabou de me contar. Só espero, pelo bem de nós dois, que não seja alguma brincadeira, porque ninguém sairá impune, embora, no meu íntimo esteja na esperança de que seja. Talvez, simplesmente adormeci na cadeira e logo vou acordar, descobrindo que isso não é mais que um pesadelo.

— Também desejo isso, Almirante. Mas infelizmente, não é um pesadelo mas a dura realidade. Confio que informará essa notícia ao Presidente.

— Ok. Só me dê um pouco de tempo para encontrar a maneira certa de chegar até ele. Como poderei entrar em contato com você?

— Acho que pode me chamar nesse número — disse Jack olhando para Petri, que com uma expressão hesitante, encolheu os ombros. — Deverá funcionar — continuou Jack. — Mas se não retornar dentro de uma hora, lhe chamarei de novo, ok?

— Ok. Até breve, então.

— Muito obrigado — disse o Coronel e encerrou a conversa. Ele permaneceu completamente imóvel por alguns segundos, com os olhos fixos no espaço, então virando-se para os outros três, que estavam escutando atentamente cada palavra, disse, bastante calmo: — Ele vai nos ajudar.

— Esperemos que sim — disse Elisa, um pouco hesitante. — Não acho que será fácil convencer o Presidente de que isso não é uma farsa.

— Somente ele pode fazer algo assim. Vamos dar-lhe um pouco de tempo — Então, se dirigindo a Petri, disse: — tente dar um espetáculo com seus "sensores" ou qualquer outra mágica que queira usar. Precisamos surpreendê-los com algo realmente excepcional, que deixará todos boquiabertos.

— Deixe comigo — disse Petri com um sorrisinho sardônico. — Temos um monte de efeitos especiais.

— Se quiser, posso mostrar o local exato da Casa Branca, a residência oficial do Presidente dos Estados Unidos, e o Pentágono, que é claro, é o Quartel-general do Departamento de Defesa.

— Bem — disse Elisa aproximando-se de Azakis — enquanto vocês dois se divertem espantando essas pobres almas na Terra, gostaria que me dissesse o que é esse estranho objeto que meu deu mais cedo.

— Como disse, penso que pode ser a solução para todos os seus problemas de descarte de lixo.

— Não vai dizer que poderei acioná-lo para fazer com que todo o plástico que está espalhado desapareça, vai?

— Infelizmente ainda não inventamos algo assim, mas deverá ajudá-los a substituí-lo.

— Sou toda ouvidos — e ela entregou-o para ele.

— Este pequeno objeto não é nada mais que um minigerador de campo de força. Graças a alguns programas bem simples, ele pode tomar qualquer formato que você desejar.

— O que quer dizer?

— Vou te mostrar agora. Abra a sua mão — Azakis apertou suavemente o pequeno retângulo escuro entre o polegar e o indicador e colocou-o na palma aberta dela. Não passou nem um segundo quando, como mágica, um lindo vaso em milhares de cores se materializou em sua mão.

— Raios... — Assustada, por instinto Elisa afastou a mão e largou o vaso, que caiu no chão, saltando de qualquer jeito aqui e ali, mas sem se quebrar, e sobretudo, sem fazer nenhum barulho.

— Desculpe — Elisa conseguiu sussurrar, lamentando. — Na verdade não esperava por isso — e se curvou para apanhá-lo de novo.

Ela segurou-o, ergueu-o acima da cabeça e começou a examiná-lo de todos os lados. Apesar da superfície totalmente lisa, a luz não parecia ser refletida nela, de modo nenhum. O objeto era mais frio ao toque do que esperava e não parecia ser feito de qualquer material que conhecesse.

— Essa coisa é absolutamente impressionante. Como fez isso?

— É graças a isto — respondeu Azakis, indicando o pequeno objeto negro, que parecia estar preso à base do vaso. — É isso que está gerando um campo de força no formato que pode ver.

— E você também poderia fazer isso no formato de uma garrafa?

— Certamente — disse Azakis, com um sorriso. — Veja — dizendo isso, colocou a ponta do indicador no pequeno retângulo e o vaso desapareceu. Segurou-o mais uma vez, apoiando o polegar nele e uma garrafa elegante azul-cobalto, com um gargalo longo e fino, apareceu do nada.

Elisa ficou boquiaberta e levou uns instantes para se recompor. Então, sem tirar os olhos do objeto recém-criado, disse, numa voz distorcida pela emoção: — Jack, venha aqui, tem que ver isto.

O Coronel, que a essa altura já havia dado a Petri todas as informações para encontrar os dois alvos, virou em sua direção, e em passos lentos, se aproximou. Ele olhou distraidamente para o objeto que Azakis estava segurando, e numa voz entediada, disse: — uma garrafa? E o que tem de tão interessante para ver?

— Sim, uma garrafa — respondeu Elisa, zangada. — Exceto que uns minutos atrás, era um lindo vaso colorido.

— Tá, sério, pare de gozação!

— Zak, mostre para ele.

O alienígena executou a mesma operação simples de antes, e dessa vez, uma enorme esfera, escura como breu, surgiu em suas mãos.

— Credo — exclamou o Coronel, pulando para trás.

— Você reconhece isto, não? — disse Azakis, abraçando a bola de quase um metro de diâmetro.

— Sim, sim — exclamou a doutora, toda entusiasmada. — É idêntica àquela que encontramos enterrada no acampamento, dentro do misterioso recipiente de pedra.

— E havia mais três — acrescentou o Coronel, — que serviram de base para o pouso da nave auxiliar.

— Precisamente — confirmou Azakis. — Nós as abandonamos na última vez, e usamos como referência para a recuperação da carga com o plástico.

— Caramba — exclamou Elisa. — Agora tudo está ficando mais claro, aos poucos.

— Perdoe-me se for uma pergunta idiota — disse Jack, encarando o alienígena. — Mas se quiséssemos usar essas coisas como recipientes, para colocar água, por exemplo, também teríamos que inventar um sistema prático de fechar e abrir. Como poderíamos fazer isso?

— Fácil. Simplesmente use outra e faça o molde de uma tampa.

— Que tonto que sou. Não tinha pensado nisso — disse Jack, dando um tapinha na própria testa.

— Como você chama essas coisinhas lindas? — perguntou Elisa, curiosa.

— No nosso planeta, são chamados de Shans — respondeu Azakis, enquanto fazia a bola desaparecer, e de novo entregou à Elisa o pequeno retângulo negro.

— Então este é um pequeno Shan — disse Elisa sorrindo, segurando-o entre os dedos, enquanto o observava atentamente. — Posso tentar criar alguma coisa?

— Bem, não é tão simples assim. Eu posso porque uso o meu implante N^COM para programá-lo em tempo real. Então ou eu faço um implante em você também, ou você pode usar... — ele parou de falar e começou a vasculhar uma pequena gaveta na lateral do console. Alguns segundos depois, retirou uma espécie de capacete, bem semelhante ao que usaram antes para respirar, e entregando a ela, terminou a frase dizendo: — isto.

— Tenho que colocar na minha cabeça? — perguntou Elisa, hesitante.

— Claro.

— Essa coisa não vai explodir meu cérebro, vai?

Azakis sorriu. Delicadamente, tomou as mГЈos de Elisa e ajudou-a a posicionar o capacete corretamente.

— E agora?

— Segure o Shan entre seus dedos e imagine qualquer objeto. Não se preocupe com o tamanho. Está programado para não se transformar em nada maior que um metro cúbico.

Elisa fechou os olhos e concentrou-se. Depois de alguns segundos, um fantГЎstico suporte de vela prateado se materializou nas suas mГЈos.

— Meu Deus — exclamou, abismada. — É absurdo. É inacreditável — Elisa não conseguia controlar a emoção. Ela continuou a virar o objeto várias vezes em suas mãos, examinando cada detalhe. — É exatamente como o imaginei. Não é possível, devo estar sonhando.




Nassíria – A emboscada


Dois enormes jipes abertos, vindos do norte da cidade, cada um com trГЄs pessoas a bordo, fez uma parada no farol vermelho de um cruzamento aparentemente deserto. Esperaram pacientemente o farol abrir e entГЈo prosseguiram vagarosamente, por mais vinte metros, atГ© chegarem Г  entrada de uma velha oficina abandonada.

Um indivíduo de porte avantajado saltou do primeiro dos dois jipes, e munido de um velho alicate, aproximou-se cautelosamente da entrada e cortou o arame enferrujado que mantinha o portão fechado. Logo atrás, outro homem saltou do segundo veículo e juntou-se a ele. O outro também era bem grande e corpulento. Juntos, tentaram mover o velho painel que servia de portão da frente. Fizeram força por um bom tempo, e então, com um sinistro chiado metálico, o painel se mexeu. Empurraram-no de lado com firmeza, escancarando a entrada por completo.

Os motoristas dos dois veículos que estavam esperando, um após o outro, com os motores ligados, deixando uma grande nuvem de fumaça preta atrás de si, seguiram para dentro da velha oficina e desligaram os jipes.

— Venham — disse aquele que parecia ser o líder, saltando do jipe, seguido por outros três. Os dois indivíduos que estavam na entrada se juntaram ao pequeno grupo e todos os seis se locomoveram silenciosamente até a entrada principal do restaurante.

— Vocês três, pelos fundos — ordenou o líder.

Todos os membros do pequeno grupo de assalto estavam equipados de rifles AK-47 e as bainhas curvas tГ­picas de facas ГЎrabes Janbiya estavam claramente visГ­veis, pendendo dos cintos de alguns deles. NГЈo eram punhais muito longos, mas as lГўminas afiadas de ambos os lados, sem dГєvida transformavam-nas em armas mortais.



O dono do restaurante, ciente de que a qualquer instante, seus companheiros surgiriam, continuou o vaivém entre o salão de refeições e a entrada dos fundos, da onde ele espiava, procurando qualquer movimento suspeito no lado de fora. Seu nervosismo, porém, não passou despercebido pelo General, que como a velha raposa que era, começou a desconfiar e notar que algo estava errado. Fingindo que estava apanhando a garrafa de cerveja, ele chegou perto do sujeito gordo e sussurrou em seu ouvido: — Não acha que seu amigo está um pouco nervoso?

— Na verdade, também notei — respondeu o gordo, também em sussurro.

— Há quanto tempo o conhece? Supõe que esteja preparando uma pequena e bela surpresa para nós?

— Acho que não... ele sempre foi de confiança.

— Talvez — disse o General, levantando-se rapidamente da cadeira — mas não confio nele. Vamos sair daqui, rápido.

Os outros dois trocaram olhares por um instante, perplexos, e entГЈo se levantaram tambГ©m e rapidamente foram atГ© o proprietГЎrio.

— Obrigada por tudo — disse o gordo — mas temos que ir — e meteu outra nota de cem dólares no bolso de sua camisa.

— Mas eu nem trouxe a sobremesa — respondeu o homem de cabelo enrolado.

— Melhor, estou de dieta — disse o gordo e partiu rapidamente para a porta. Espiou o exterior por detrás da cortina, e não vendo nada fora do comum, fez sinal para os outros dois seguirem-no. Mal teve tempo de passar pela entrada, quando olhando de soslaio, notou os três bandidos se aproximando à sua direita.

— Desgraçado — conseguiu berrar antes que o mais próximo dos três, num inglês muito ruim, ordenasse para parar. Como resposta, o gordo removeu uma granada de atordoamento do cinto, e berrou para seus companheiros: — Granada de luz e som!

Os dois imediatamente fecharam os olhos e cobriram os ouvidos. Um clarão de luz ofuscante, seguido de um grande estrondo, acabou com o silêncio da noite. Os três atacantes, tomados de surpresa pelo movimento do gordo, estavam temporariamente atordoados pela explosão, e o clarão ofuscante da granada impedia que vissem os três americanos, como uma rajada de corrida de cem metros, escaparem na direção do carro.

— Fogo! — gritou o líder dos agressores.

Houve uma explosão dos AK-47 na direção dos fugitivos, mas enquanto durava o efeito da granada de luz e som, perdeu-se acima das suas cabeças.

— Vamos! — berrou o magrelo, sacando sua Beretta M9 do coldre sob a axila e respondendo ao fogo.

Ao mesmo tempo que corria, o gordão conseguiu retirar do bolso da jaqueta o controle remoto do veículo e abriu a porta traseira. Com um salto ágil, lançou-se para dentro e apanhando um dos rifles M-16 que sempre levava consigo, jogou-o para o General. Ele pegou uma metralhadora FN P90 para si e começou a atirar na direção dos agressores.

— Vamos! — berrou para o magrelo que, mantendo a cabeça baixa, foi direto à porta do motorista. Enquanto seus dois amigos o cobriam, subiu no carro. Outra explosão, por trás dele, deixou uma série de buracos desalinhados na parede de chapas metálicas do barraco em frente.

Enquanto isso, os três agressores que foram pelos fundos, surgiram na entrada principal do restaurante e se juntaram aos seus colegas no tiroteio. A mira deles era definitivamente melhor. Uma bala atingiu o espelho esquerdo traseiro, que se dividiu em mil pedaços.

— Droga! — exclamou o magrelo, ao abaixar a cabeça por instinto, e tentar ligar o carro.

— General, entre — berrou o gordão, lançando outra explosão na direção dos agressores.

Com a agilidade de um jovem, Campbell se jogou no banco de trГЎs, no exato instante que uma bala voou perigosamente prГіxima da sua perna esquerda e se alojou na porta aberta. Com um movimento rГЎpido, ele soltou o banco de trГЎs e conseguiu passar para o bagageiro. Logo avistou uma sГ©rie de granadas enfileiradas dentro de um contГЄiner de poliestireno. Sem parar para pensar, agarrou uma, e depois de remover o detonador, arremessou-a para os agressores.

— Granada! — berrou e se agachou.

Enquanto uma nova explosГЈo de AK-47 quebrava a janela de trГЎs e destruГ­a o farol traseiro direito, a granada de mГЈo rolou silenciosamente no meio do pequeno grupo de agressores, que cientes do perigo iminente, se atiraram no chГЈo, agachando o mГЎximo que podiam. A granada explodiu com um ruГ­do ensurdecedor e um clarГЈo ofuscante rasgou a escuridГЈo da noite.

O gordão, aproveitando a manobra de surpresa do General, correu para o lado do passageiro, pulou a bordo, e com uma perna ainda para fora, gritou: — Vai, vai!

O magrelo pisou no acelerador e o carro, guinchando os pneus, avançou direto para a velha porta do barraco abandonado. O veículo lançado em velocidade facilmente tirou proveito das chapas de metal enferrujadas do painel, que caiu pesadamente para dentro. O carro continuou em sua corrida maluca, destruindo tudo no caminho. Velhas panelas de barro, engradados de madeira podre, cadeiras e duas velhas luminárias foram arrastadas e jogadas para o ar, levantando uma grande nuvem de areia e entulho. O magrelo que dirigia estava tentando desviar o quanto podia, usando o peso do corpo para girar o volante para a esquerda e a direita, mas apesar de todo o seu esforço, ele não conseguiu desviar da coluna central de madeira podre que segurava o telhado, partindo-a por inteiro. O barraco deu uma chacoalhada, rangeu, e então, como se um enorme peso tivesse caído no telhado, literalmente comprimiu-se em si mesmo. Tudo isso aconteceu ao mesmo tempo em que os três, tendo derrubado a parede de fundo também, fugiram da velha oficina, seguidos de um barulho ensurdecedor e uma grande nuvem escura. O carro, agora descontrolado, bateu numa pilha de lixo deixada à beira da estrada, e finalmente parou.

— Que inferno — disse o General, que já havia batido a cabeça várias vezes no encosto de braço da porta. — Quem te ensinou a dirigir assim?

Em resposta, o magrelo pisou no acelerador de novo, e tentou achar um caminho no meio do lixo. Vários trapos coloridos ficaram presos entre as rodas, e uma velha televisão ficou pendurada no para-choque traseiro. Ele teve que percorrer pelos detritos por um bom tempo antes de finalmente alcançar a beira da estrada. Com uma pancada seca, o carro atravessou o asfalto e os três estavam novamente na estrada principal, rumo à leste.

— Quem diabos eram eles? — perguntou o gordão enquanto se acomodava no banco e tentava fechar a porta.

— Pergunte ao seu amiguinho dono do restaurante — retrucou o magrelo.

— Se eu conseguir pegá-lo de novo, vou fazê-lo engolir todos os seus talheres, incluindo as conchas.

— Mas o que esperava, amigo? Já devia saber que não pode confiar em ninguém aqui — E ao virar numa estrada secundária à direita, acrescentou: — Pelo menos comemos alguma coisa.

O carro negro saiu crepitando na escuridГЈo da noite, deixando uma trilha irregular de lГ­quido estranho por onde passava.




Astronave Theos – O Presidente


— Mas da onde extrai energia para criar um campo de força tão potente? — perguntou o Coronel intrigado, ao observar atentamente o suporte de vela que acabara de ser criado.

— A energia está em tudo, em todos os lugares do Universo — respondeu Azakis. — Tudo que o forma, é feito de matéria, e a matéria não é nada mais que uma forma de energia e vice-versa. Mesmo os seres vivos não passam de formas simples de energia e matéria.

— Somos feitos da mesma substância que as estrelas — sussurrou Elisa extasiada, lembrando uma velha frase de alguém cujo nome não lhe via à mente naquele instante.

— Concordo, mas a partir desse ponto até a possibilidade de aproveitá-la desse modo, é um grande salto — disse o Coronel.

Ele estava quase pedindo mais esclarecimento, quando um som de blues, do seu celular, o interrompeu.

— Agora quem diabos será? — disse em voz alta, enquanto lia o nome do autor da chamada: "Camp Adder—Prisão."

— Coronel Hudson — respondeu secamente no microfone.

— Coronel, finalmente.

Imediatamente Jack reconheceu a voz do sargento negro que o acompanhara em muitas missões. — Sargento, o que é?

— Estive lhe procurando por horas. Onde está?

— Ah, direi que estou correndo por aí como o vento. Mas, Sargento, qual é o problema?

— Apenas queria informar-lhe de que seu pedido de transferência do General foi conduzido sem quaisquer transtornos.

— Pedido de transferência do General? Que diabos está falando?

— Tenho em minhas mãos uma ordem por escrito, assinada pelo senhor, autorizando o General Richard Wright e o Coronel Oliver Morris a transferir o General Campbell para um lugar ultrassecreto. Verifiquei e é a sua assinatura.

— Mas eu não autorizei nada desse tipo — O Coronel fez uma breve pausa e então disse: — Onde está o General agora?

— Não tenho ideia, senhor. Os oficiais que mencionei levaram-no sob custódia.

— Droga, ele conseguiu fugir — Então teve um palpite e disse: — Sargento, seria capaz de descrever os dois soldados que levaram o General?

— Certamente. Um era alto e magro e o outro mais baixo e obeso. Eles tinham...

— Ok, Sargento, é suficiente. Eu compreendo. Obrigado.

— Espero não ter feito asneira.

— Não se preocupe, não foi culpa sua — e encerrou a conversa.

— O que houve? — perguntou Elisa preocupada.

— Aqueles dois que nos atacaram e que capturamos, fugiram e conseguiram que aquele desgraçado do General Campbell também escapasse.

— Lamento, querido, de verdade, mas não deixe isso te perturbar. Temos problemas muito mais sérios para nos concentrarmos neste instante, não é?

— Você tem razão — e assim dizendo, fez o suporte de vela deslizar pelas mãos de Elisa, e mostrando para Azakis, perguntou: — Onde nós paramos?

— A fonte de energia.

— Certo. Eu queria dizer, como diabos essa coisa funciona?

— Bem, não é tão simples de explicar, mas podemos dizer que ela absorve toda a energia em volta e a molda no formato para o qual foi programada.

— Bom — disse Jack, confuso. — Não posso dizer que entendi muita coisa. Mas o fato é que funciona, e muito bem. Acha que essa tecnologia também poderia ser reproduzida na Terra?

— Sem dúvida. Não vejo nenhum problema. Quando chegar a hora, direi a Petri para transferir todas as informações necessárias para você.

— Fantástico. Fico só pensando nas expressões dos nossos cientistas quando estiverem diante de uma revelação como essa. Atualmente, ainda não conseguimos produzir grandes quantidades de energia, a não ser de combustíveis fósseis ou energia nuclear. Acho que sua visita vai revolucionar muitas coisas no nosso planeta.

— Como sempre fizeram — acrescentou Azakis, com um pequeno sorriso.

— Se me lembro bem — disse Elisa entrando na conversa, — não foi um cientista chamado Nikola Tesla, que viveu entre 1800 e 1900, que imaginou uma forma de energia que permeava o cosmo inteiro?

— Uau — respondeu Jack, impressionado. — Não sabia que você era especialista.

— Há uma porção de coisas que ainda descobrirá a meu respeito, querido — e com um gesto bem ousado, ela passou a mão pelos longos cabelos.

— Na realidade — continuou Jack, — Tesla fez muito mais. Além da realização de toda uma série de invenções que ainda usamos até os dias atuais, teorizou a possibilidade de usar o que ele chamava de "éter”, como uma fonte inexaurível de energia. Se essa substância, que supostamente permeia o Universo inteiro, for adequadamente estimulada, proveria energia em qualquer lugar, a qualquer hora — Satisfeito em ver a amada o admirar cada vez mais, orgulhosamente continuou a sua explicação: — Entretanto, depois de embates com a hipocrisia e a ganância dos que estavam no poder na época, o acadêmico declarou que a humanidade ainda não estava pronta para uma reviravolta desse tipo e abandonou o projeto, fazendo desaparecer todos os seus vestígios. Somente depois de mais de 100 anos, nossos cientistas começaram a postular a presença de uma "substância", isto é, a "matéria negra", e também uma espécie de energia, a "energia negra", que aparentemente, compõem mais de 70% da densidade do Universo.

— Estou impressionada — disse a doutora, o olhando com espanto. — Também não pensava que conhecia tanto sobre esse assunto.

— Há muitas coisas que ainda descobrirá a meu respeito, querida — respondeu Jack com a mesma gracinha e o mesmo gesto, embora seu cabelo fosse muito curto para obter o efeito desejado.

— Talvez estejamos falando sobre a mesma coisa — declarou Azakis, satisfeito.

— Energia ilimitada, disponível para todos, em todo o Universo e sem custo... incrível — Jack estava absorto na avaliação de todas as possíveis implicações dessa nova revelação catastrófica, quando seu celular começou a tocar a mesma musiquinha de novo.

— E agora, quem será? — exclamou um pouco irritado. Então viu quem estava ligando e seu rosto se iluminou. — Almirante, não esperava seu telefonema tão cedo.

— Rapaz, consegui contatar o Presidente e expliquei a situação. Está aqui agora, na minha frente. Se quiser passo para ele.

— Claro, claro — ele respondeu um pouco constrangido, acenando para Petri, apontando seu telefone celular. Alguns segundos se passaram, então uma voz calma e grave apareceu no telefone: — Coronel Jack Hudson?

— Sim, Senhor Presidente. Sou eu, Senhor. Às suas ordens, Senhor — ao responder, não pôde evitar uma posição de sentido, provocando um sorriso discreto de Elisa.

— Coronel, somente o respeito e a confiança que tenho pelo Almirante Wilson possibilitaram esta chamada. O que me contaram é tão absurdo que pode até ser verdade.

— Sr. Presidente, solicito que ajuste o telescópio mais próximo para as coordenadas que vou lhe enviar.

Petri já havia posicionado a Theos num paralelo perto do Polo Norte, para que fosse vista numa área ainda escura da Terra, fazendo uma série de números aparecerem na grande tela. Rapidamente, Jack inseriu e enviou esses números no celular. — Essa é a posição atual da nossa astronave. Acho que seus engenheiros não terão problemas em nos localizar.

O Presidente assentiu brevemente para um assistente alto e robusto com quem estava na Sala Oval da Casa Branca. Mostrou-lhe os números que apareceram no telefone e sussurrou algo em seu ouvido. O homem, que estava de terno preto, camisa branca como neve e uma gravata cinza de listras coloridas, colocou o punho na altura da boca e proferiu uma série de instruções.

— Sr. Presidente — continuou Jack. — A situação é muito grave. Nosso planeta está em risco de uma enorme reviravolta, e com a ajuda dessas pessoas que vieram de muito longe, poderíamos evitar isso. Compreendo perfeitamente todas as suas reservas, mas realmente estou aqui em cima e posso provar ao senhor.

Petri ativou os sensores de curto alcance, apontando para as coordenadas que o Coronel forneceu antes e apareceu na tela da ponte de comando a visГЈo de cima da Sala Oval.

— Senhor, neste momento está inclinado em sua mesa com a mão direita, o Almirante está ao seu lado e há mais duas pessoas na sala.

O Presidente instintivamente olhou em volta para descobrir se alguém estava espionando. Ele hesitou um pouco e então disse, desconcertado: — Mas isso é absurdo. Como sabe disso tudo?

— Simplesmente porque estou vendo vocês.

— Mas isso não é possível. Nada pode penetrar a blindagem desta sala.

— Nada na Terra, Sr. Presidente — Jack corrigiu. Então Petri se aproximou e disse algo em seu ouvido. O Coronel arregalou os olhos, e num tom decisivo, disse no microfone: — Acho que isto também não é possível com a nossa tecnologia.

Mal teve tempo de terminar a frase quando a mesa histórica do século XIX, conhecida mundialmente como a "secretária Resolute", começou a levitar lentamente. O Presidente pulou para trás e olhou perplexo para o Almirante, que retribuiu com um olhar igualmente assombrado.

— A mesa está flutuando no ar — exclamou ele. — É como se a gravidade não tivesse nenhum efeito sobre ela.

Um outro homem na sala, de estatura mais baixa que o anterior, mas igualmente robusto, instintivamente sacou a arma do coldre sob a axila, em um gesto para proteger seu chefe. Olhou rapidamente para a esquerda e a direita, como se estivesse tentando detectar um fantasma, mas nГЈo pГґde ver nada suspeito.

— Guarde a arma — o Presidente disse em voz baixa. — Não acho que há nenhum perigo. Isso é obra dos nossos amigos lá em cima.

Por instinto, todos olharam para o teto branco da sala, exceto o assistente mais alto, que depois de colocar os dedos no fone da orelha direita, num tom sem emoção, disse: — Temos as imagens, Senhor — e retirou um grande tablet da mala, tocou algumas instruções na tela, olhou por alguns segundos e então polidamente entregou ao Presidente. O homem, considerado por muitos, como o mais poderoso do mundo, tomou o tablet na mão esquerda e começou a olhar atentamente a tela. O Almirante Wilson, decididamente intrigado, colocou os óculos de ler, aproximou-se e também tentou ver o que podia.

O dispositivo mostrou as imagens via satГ©lite de um telescГіpio, nГЈo muito potente, instalado num pequeno observatГіrio secreto, construГ­do no sul da FinlГўndia. JГЎ havia anoitecido nessa ГЎrea e a escuridГЈo impossibilitaria ver o ponto indicado com facilidade.

— Me dê uns segundos mais, Coronel. Estou prestes a exibir a área correspondente às coordenadas que mandou agora há pouco.

A visualização ainda não estava focalizada, quando de repente, no meio da negritude do espaço repleto de milhões de estrelas, uma pequena esfera prateada, metade iluminada pela luz do sol, apareceu no monitor.

Alguns segundos se passaram e a visão mudou. O nível de ampliação foi elevado. Agora a esfera ocupava quase o monitor inteiro, e era possível admirar muitos tons de cores, desde roxo até azul escuro, que pareciam se mesclar na superfície prateada.

Enquanto isso, a bordo da Theos, os dois terráqueos e os dois alienígenas estavam apreciando a vista na grande tela, olhando abaixo para a Sala Oval. Tocando os controles no console central, Petri ampliou o tablet do Presidente e exibiu sua tela. — Estão olhando para nós — exclamou. Depois, percebendo que o ângulo estava muito lateral, posicionou a astronave para a direita cerca de vinte graus e acrescentou: — Agora está perfeito. Querem olhar pela janela e acenar para eles?

Elisa e Jack o olharam com espanto, mas quando viram Azakis se dirigindo para a grande janela elíptica que dava para o espaço, seguiram-no sem falar. Os três se inclinaram na borda e não conseguiam evitar de olhar, maravilhados. Diante deles, em todo o seu majestoso esplendor, estava a Terra.

— É maravilhoso — Elisa conseguiu sussurrar, extasiada.

— E agora, acenem — disse Petri animadamente.



A imagem no monitor da Sala Oval mudou de novo. Agora o nГ­vel do zoom era mГЎximo.

— Coronel, não posso acreditar... — murmurou o Presidente num fio de voz. — Posso vê-los — Então virou-se para o Almirante, que assombrado, deixou cair a caneta que segurava e acrescentou: — Isso é absolutamente incrível.

— Eu disse, não foi? — respondeu Wilson, decididamente satisfeito.

— À minha esquerda, pode ver a Doutora Elisa Hunter e à minha direita, está o capitão desta astronave, o Sr. Azakis.

Ambos fizeram um gesto com as mãos e o homem mais poderoso do mundo somente conseguiu responder, embaraçado: — Ahn, prazer em conhecê-los...




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